Resposta às críticas sobre aspectos psiquiátricos do “estupro coletivo”
Diário da Manhã
Publicado em 10 de junho de 2016 às 02:43 | Atualizado há 9 anosFui bem criticado sobre minha opinião acerca do “estupro coletivo”, num post anterior.
Depois que eu escrevi sobre uma paciente que, sendo bipolar, toxicômana, hiperativa, cérebrolesionada frontal, foi estuprada coletivamente, recebi interessantes argumentações contrárias à minha. Em resumo, dizem que, no caso do Rio de Janeiro – comoção nacional – a garota (que alguns chamam de “uma criança de 16 anos”, apesar de já ser mãe de uma criança de três anos) não era hiperativa/toxicomana/ninfomaníaca, e, portanto, não procurou a situação de estupro. Então, segundo minha interlocutora, a culpa é, sim, da “cultura machista/truculenta” do estupro que grassa em nosso País.
Eu responderia que é claro que há situações onde a vítima não tem nada a ver com as condições do estupro. Num caso desse, o problema é moral mesmo (caráter degenerado dos homens). No entanto, neste caso específico do RJ, parece que os dados da mídia apontam para outra situação, bem mais para o lado “médico-patológico” mesmo, como eu descrevi para minha paciente. Segundo algumas informações, a garota do RJ, teria vários elementos de disrupção psiquiátrica do comportamento, p.ex., hiperatividade, toxicomania pesada, ninfomania, falta de pragmatismo, vida errante, elementos pejorativos na vida instintiva (p.ex., “trocas de casais”, “surubas”, sexo em troca de drogas, relacionamentos sexuais seriais num mesmo dia, etc). Portanto, a meu ver, e com os dados da mídia, a garota procurou sim, e viveu, num ambiente altamente degenerado, propiciador destes tenebrosos comportamentos. Adentrou um submundo, tanto o dela quanto o dos degenerados homens que a estupraram. É um mundo patológico-paralelo, que não condiz com o mundo da maioria dos homens trabalhadores, honestos e retos sexualmente, como eu. A disseminação, via grupos “coitadistas”, “esquerdistas”, “feministas”, de que, há no Brasil, uma “cultura disseminada do estupro”, é, ao meu ver, um desvio de questões médicas, ou então morais, para questões políticas (interesse em “abolir toda forma de autoridade fálica”, numa espécie de “volta da coletivista, coitadista, “protetora-de-todos”, “sexualmente-impoluta”, MulherMãe-Dilma).
O estupro pode ser cometido em situações não-patológicas, num grupo masculino/truculento/autoritário puramente degenerado do ponto de vista moral? Sim, é claro! No entanto, esta “degeneração moral” não é um “fenômeno político-social” como as esquerdo-feministas estão tentando emplacar no imaginário nacional. Este não é um problema “político-sexista”, é um problema, como eu disse antes, ora médico-psiquiátrico-patológico, ora moral, tanto de homens e mulheres que, mesmo sem patologia nenhuma, procuram formas degeneradas de prazer (p.ex., o sexo, sem o concomitante do amor, acaba degenerando-se, de uma forma ou de outra).
Tanto homens quanto mulheres procuram formas degeneradas da vida sexual, grande parte por patologia (sobretudo nas mulheres), mas também grande parte por desvios de caráter (sobretudo nos homens). Estes problemas médico-morais, no entanto, não justificam a generalização “esquerdo-feminista” de que o homem brasileiro (leia-se “portador de algum tipo de autoridade/individualidade, seja homem, mulher”) seria, de modo geral, signatário de uma certa “cultura do estupro”. Essa confusão de planos (plano médico, moral, político-social) é , mais uma vez, muito bem usada e manipulada pelas “estruturas de esquerda”, tudo com o objetivo de “des-falicizar”, “tirar o falo”, de uma parcela da sociedade (não só homens, mas muitas mulheres também – isso não é uma questão que depende de sexo) que acreditam que o indivíduo tem o direito de exercer o seu poder de trabalhar, de criar, de progredir, evoluir, sem estar manietado por uma cultura coitadista/enfraquecedora que tenta reduzir o indivíduo à média, reduzí-lo e enfraquecê-lo ao nível do “coletivo que é igual à média de todos”. No fundo, o que buscam mesmo, no imaginário popular, é o “Volta-Mãe-Dilma”, “Fora-Frio-Truculento-Homem-de-4-mulheres-Temer” (bem que eu não concordo com o Temer ter passado por quatro esposas, mas, eu também não vou cair na armadilha de confundir o plano moral com o plano político).
(Marcelo Caixeta, médico psi-quiatra)
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