Opinião

Sandra e René Pompêo de Pina

Júlio Nasser

Publicado em 9 de abril de 2017 às 23:24 | Atualizado há 8 anos

A história mundial não é pródiga em casais que se destacam em seus campos de saber ou áreas de atividades, em graus equânimes. Geralmente apenas um deles se sobressai – na sociedade patriarcal e machista, normalmente o homem – cabendo ao outro o papel de coadjuvante. O rol pode ser estendido a centenas de pares, ressalvando-se, contudo, que muitos dos parelhos envolveram-se em escândalos que macularam os feitos do casal. Alguns exemplos em contrário incluem os romancistas americanos Zelda (1900-1948) e Francis Scott Fitzgerald (1896-1940), que se resplandeceram como os cônjuges “número um” da literatura americana. Da mesma forma os físicos franceses Pierre (1859-1906) e Marie Curie (1867-1934) ganharam o prêmio Nobel de Física em 1903, notabilizando-se como o casal mais profícuo para a ciência em todos os tempos. Jacqueline Kennedy, no exercício da presidência de seu esposo John F. Kennedy, firmou-se como a primeira dama mais popular dos Estados Unidos, criando a tradição de ter agenda e atividades políticas próprias. Na atualidade, Bill e Melinda Gates são exemplos de consortes que se uniram por uma causa, a ponto de seus nomes se tornarem sinônimo de filantropia – que se atribui primariamente a Melinda – após a genial projeção do marido no mundo da tecnologia da informação e dos negócios. Esta lista poderia incluir, ainda, Bill Masters e Virgínia Johnson, cujos Relatórios Masters e Johnson foram responsáveis pela compreensão da sexualidade humana a partir da década de 1950 e também outro Bill, o Clinton, cuja esposa Hillary Clinton tornou-se secretária de Estado e candidata a presidente dos Estados Unidos, após o exercício do cargo de primeira dama americana, por duas vezes.

Respeitadas as devidas proporções regionais e contextuais, em Goiás há um casal cujos extensos currículos e notáveis biografias, somados à similar formação das duas filhas, constituem um dos mais admiráveis e distintos núcleos familiares da sociedade goiana. Refiro-me ao Engenheiro René Pompêo de Pina e à sua esposa Sandra Maria Fontoura Queiroz de Pina, cujo mecenato da cultura do Estado, qualificação profissional e relevantes serviços prestados a Goiás e ao Brasil, os colocam com louvor na plêiade dos listados acima.

René Pompêo de Pina nasceu no dia 29/06/1941, em Palmeiras – hoje Palmeiras de Goiás – descendente das tradicionais famílias Fleury, Jayme, Pina, Mendonça e Aquino, de Pirenópolis, com raízes na Espanha – pelas famílias Bueno e Camargo – e em Portugal, por João Ramalho, náufrago que chegou ao Brasil em 1508, fundador da Vila de Santo André da Borda do Campo, genro do Cacique Tibiriçá – “Protetor da Casa de Piratininga” e dos padres fundadores do Colégio Jesuíta, que deu origem à Vila de São Paulo, atual capital paulista. Essas informações estão fartamente fundamentadas no livro Família Jaime/Jayme: Genealogia e História (Goiânia: Kelps, 2016. 1.148 páginas), deste autor.

René Pompêo de Pina é filho do comerciante e industrial Antônio Pompêo de Pina – neto paterno do major Sebastião Pompêo de Pina (n. 18/08/1903 – f. 15/10/1997),  e de Maria Cristina d’Abadia Mendonça “Tetina” – e de Ophelia Jayme de Pina (n. 25/02/1917 – f. 29/09/2015), mulher de aprimorados dotes intelectuais, erudita, culta, professora e pianista, bacharel em Ciências e Letras (1935), em Pedagogia, e licenciada em Letras Vernáculas e em didática, com pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP, 1970 a 1973), na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP, 1970-73) e na Université Paris – Sorbonne (1972).

René fez seus estudos fundamentais e médios no Colégio Arquidiocesano de São Paulo, finalizados em 1956 e 1959, respectivamente. Tornou-se engenheiro eletricista pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) (1964) e Master of Science (M.Sc.) em Engenharia Elétrica pela University of Colorado, Boulder, Colorado, E.U.A (1970). Como parte de sua formação de engenheiro, o biografado cursou as seguintes especializações nos Estados Unidos: a) Curso de Transmissão, Distribuição e Operação na Rural Electrification Association e no Bureau of Reclamation, Casper, Wyoming (1968); b) Curso de Operação e Manutenção no Casper College Hot Line Training Center, Casper, Wyoming (1968) e; c) Programas de Treinamento do Washington International Center, Washington, D.C. (1968).

Profissional de escol, possui inaudito currículo acadêmico e ocupou posições de destaque na vida pública, a saber: I) fundador do curso de Engenharia Elétrica da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Goiás (UFG); II) professor titular do Departamento de Eletrotécnica da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Goiás, tendo lecionado quatro disciplinas: Máquinas Elétricas, Circuitos elétricos e Eletromagnetismo, Conversão Eletromecânica de Energia e Engenharia de Segurança do Trabalho; III) engenheiro das Centrais Elétricas de Goiás (CELG), a partir de 1965, onde ocupou os oito cargos seguintes; IV) chefe da Divisão de Produção de Energia (1965); V) chefe do Departamento de Operação (1965-1966); VI) superintendente de operação, transmissão e distribuição (1966-1968); VII) assessor técnico da diretoria técnica (1970); VIII) diretor técnico (1970-1971); IX) Diretor vice-presidente (1972-1974); X) presidente do Conselho de Administração; e XI) presidente da CELGPAR.

Dotado de respeitável capacidade técnica, experiência em gestão e maturidade na gerência do serviço público, ocupou diversos cargos e funções nos Governos de Goiás, Tocantins e no Governo Federal: a) secretário de Minas, Energia e Telecomunicações do Estado de Goiás (1975-76); b) secretário da Fazenda do Estado de Goiás (1976-79); c) titular da Superintendência do Desenvolvimento da Região Centro-Oeste – SUDECO, Ministério do Interior, Brasília (1979-85); d) membro da Comissão Especial da Divisão do Estado do Mato Grosso; e) assessor do Ministro dos Transportes, Brasília (1986-1987); f) secretário Adjunto do Ministério dos Transportes, Brasília (1988); g) primeiro secretário da Fazenda do recém criado Estado do Tocantins, Palmas (1989-91); h) diretor financeiro da Central de Medicamentos – CEME – Ministério da Saúde, Brasília (1992-1993); i) assessor técnico da Secretaria de Assistência Social, Ministério da Previdência Social; Brasília (1994-1995); j) superintendente executivo da Secretaria de Transportes do Estado de Goiás (1999-2002); k) superintendente executivo da Secretaria de Infraestrutura do Estado de Goiás; l) secretário de Infraestrutura do Estado de Goiás; e, atualmente, m) Chefe de Gabinete da SECIMA – Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos do Estado de Goiás.

Como reconhecimento pelos relevantes serviços prestados ao Estado de Goiás e à Região Centro-Oeste, foi laureado com mais de quarenta medalhas e comendas. Recebeu diplomas honoríficos de câmaras de vereadores, prefeituras e associações comerciais e industriais nos seguintes municípios goianos: Goiânia, Rio Verde, Itapuranga, São Miguel do Araguaia; Anhanguera, Cabeceiras, Jataí, Padre Bernardo, além de Palmas e Porto Nacional, no Tocantins. Foi laureado com os títulos de Cidadão Honorário, em Palmeiras de Goiás, São Miguel do Araguaia, Goianésia e Catalão, no Estado de Goiás, além de receber o diploma de Honorary Citizen of Boulder, em Boulder, no Colorado, Estados Unidos (19/05/1979).

Dentre outras láureas, foi honrado com o diploma de Membro do Corpo de Graduados Especiais da Ordem do Mérito Militar, por decreto do Presidente da República (23/07/1979); diploma e medalha do Mérito Marechal Rondon (1981); grau de Comendador; medalha da Ordem do Mérito de Mato Grosso (19/01/1982); diploma do Mérito Comercial de Brasília da Federação de Comércio de Brasília (16/07/1982); e com o diploma e medalha do Mérito Alvorada, do Governo do Distrito Federal (23/09/1982).

Homem afável, cordato e discreto, à parte de sua determinação, cultura e coragem, é diplomata de berço, sendo interlocutor de vários governadores, nos Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia, além de ministros da República. Querido na comunidade acadêmica e estudantil, foi paraninfo de dezenas de turmas na Universidade Federal de Goiás e outras universidades.

Técnico altamente conceituado, intelectual que pensa estrategicamente, participou de dezenas de comissões técnicas, entre elas as que definiram a divisão do Estado do Mato Grosso, e a que criou o Estado de Rondônia. Palestrante conceituado, ministrou centenas de apresentações e palestras em todo o Brasil. Participou de mais de cinquenta publicações, de cunho técnico, desenvolvimentista, municipalista, fazendário e geoeconômico. É sócio fundador da Academia Palmeirense de Letras e Artes, onde ocupa a cadeira número 12, cujo patrono é Pireneus de Carvalho.

Herdeiro do tino empresarial de seu pai é agropecuarista no Tocantins e em sua cidade natal, mantendo com ela vínculos afetivos e familiares. É um dos maiores beneméritos de Palmeiras de Goiás, sendo responsável direto – por incumbência do governador Marconi Perillo – pela escolha daquela cidade para a implantação do Frigorífico Minerva, um dos maiores exportadores de carne bovina do Estado de Goiás. Em 2005, emprestou seu prestígio e expertise, como presidente da Comissão de Organização das antológicas e exitosas comemorações culturais do Primeiro Centenário de Palmeiras de Goiás, nomeado por decreto do Governador de Goiás.

Embora não seja político de carreira, é um hábil político “lato sensu”, se destacando, contudo, como notável técnico. Durante o governo do Presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985), último presidente do ciclo militar, René foi um dos melhores quadros técnicos dessa administração, quando esteve à frente da Superintendência de Desenvolvimento da Região Centro Oeste (Sudeco) de 1979 a 1985. Alguns anos antes, em 1978, ao final do governo Geisel, foi um dos principais cotados para ser nomeado governador de Goiás, contando, inclusive, com a preferência do Governador Irapuan Costa Júnior. Na indicação indireta, no entanto, a amizade de Ary Valadão com o general Golbery do Couto e Silva, então todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil da Presidência lhe valeu o posto. Por um capricho do destino, o mais preparado técnico goiano à época, não tornou-se governador de Goiás.

Casou-se René Pompêo de Pina com a escritora Sandra Maria Fontoura Queiroz de Pina (n. 30/03/1947), natural de Uberaba, MG, filha do Advogado, sociólogo, professor, escritor, jornalista e grande orador Jerônimo Geraldo de Queiroz (n. 13/04/1917 – f.24/09/2013), ex-Reitor da Universidade Federal de Goiás, mineiro de Campina Verde; e de Celma Afonso Fontoura de Queiroz, uberabense como a filha.

Fazendo par com seu esposo, Sandra Maria tem curriculum vitae magnificente. Iniciou seus estudos no Colégio das Irmãs Assunção, em Goiânia, GO, em 1962. Nessa mesma cidade concluiu o Curso Normal no Instituto de Educação de Goiás (IEG), em 1965. Bacharelou-se em Letras Modernas (Português e Inglês), no Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da Universidade Federal de Goiás (UFG), em 1971, e licenciou-se em Português e Inglês, pela Faculdade de Educação da UFG, no mesmo ano. A seguir, concluiu graduação em Piano no Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás, em 1972. Pós graduou-se em Teoria da Literatura, no ICHL, da UFG, em convênio com a Universidade de São Paulo (USP) e Universidade de Brasília (UnB).

Sandra de Pina fez estudos nos Estados Unidos, Inglaterra e Espanha, pelas seguintes instituições: i) Casper College (Casper, Wyoming, E.U.A (1968): English Composition; ii) University of Colorado (Boulder, Colorado, E.U.A (1968, 1969 e 1970); iii) University of Michigan (Certificate of Proficiency in English, English Language Institute, Ann Arbor, Michigan, E.U.A (27 de junho de 1970); iv) University of Cambridge (Certificate in English, Cambridge, Inglaterra (junho de 1972); v) Universidad de Zaragoza (Curso Intensivo de Lengua y Cultura Española para Extranjeros, Zaragoza, Espanha (janeiro a fevereiro de 2004); vi) Universidad de Zaragoza (Curso Intensivo Cuatrimestral de Lengua y Cultura Española para Extranjeros (janeiro a abril de 2006).

Mulher dinâmica e atuante, poliglota, foi professora assistente de língua inglesa do Departamento de Letras do Instituto de Ciências Humanas e Letras, na UFG, concursada em 1973. No Ministério da Educação e do Desporto (MEC), em Brasília, ocupou as seguintes funções: a) secretária de assuntos internacionais e assessora internacional do gabinete do ministro da educação; b) assessora para assuntos internacionais (1986-1996); c) coordenadora de cooperação técnica internacional na área bilateral; d) coordenadora dos assuntos da juventude na área internacional (Brasil-Espanha, intercâmbio de jovens de 1988 a 1993 e Brasil-Japão, intercâmbio de jovens, diversas Missões no Japão de 1989 a 1996); e) representante do MEC em diversas comissões mistas realizadas em Brasília e no Exterior.

Altruísta, Sandra Maria foi voluntária da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade – CNEC – como membro do Conselho Nacional, vice presidente do Conselho Nacional e coordenadora nacional do PAEC – Programa de Artesanato das Escolas da Comunidade da CNEC, de 1979 a 1996. Foi assessora pedagógica do Projeto Rondon (UFG-UFPI) e participou de diversos cursos na área de música, letras, ensino da língua inglesa, tradução simultânea de língua inglesa, elaboração e avaliação de provas, ensino técnico, qualidade e produtividade na educação, técnica e cultura jornalística, curso de oratória, presidente de comissões, membro de conselhos sociais, dentre outros. Teve participação em Recitais de Piano e no Coral do Instituto de Artes da Universidade Federal de Goiás. É membro correspondente da Academia Goianiense de Letras, titular da Cadeira 43, patronímica de Rosarita Fleury.

Entre as diversas láureas e homenagens foi patronesse e paraninfa de muitas turmas de formandos; recebeu o título de Conselheira do Ano da CNEC (1984) e é cidadã honorífica de Boulder, Colorado, E.U.A (1969).

A par de atividades culturais, como a curatela do notável acervo bibliográfico do professor Jerônimo Geraldo de Queiroz, o mecenato, as atividades acadêmicas, e o acompanhamento da formação de suas duas filhas – Thaís Queiroz Pompeo de Pina, arquiteta e administradora, que faz estudos complementares em Londres e de “Tainá Pompêo”, nome artístico de Tainá Queiroz Pompeo de Pina, engenheira civil, musicista, compositora e produtora artística, autora dos antológicos “Flores de Goyá”, I e II –, esmera-se em coadministrar as empresas da família, o que faz com rara dedicação e competência.

O gosto inato para as questões culturais, herdou-o René de seu tetravô, Luiz Gonzaga de Camargo Fleury, editor da “Matutina Meyapontense” – o primeiro jornal do Estado de Goiás e do sertão brasileiro e Sandra de seu pai, Jerônimo Geraldo de Queiroz, prolífico escritor, poeta e notável intelectual. Por tudo que são, merecerão Sandra Maria Fontoura Queiroz de Pina e René Pompêo de Pina – quiçá em futuro distante – um lugar no panteão dos grandes goianos.

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