Opinião

Sinais dos tempos… Quais?

Diário da Manhã

Publicado em 23 de dezembro de 2017 às 22:04 | Atualizado há 7 anos

Sim… Quais? Que tempos são estes, em que um segmento da sociedade, ocasional e oportunamente, se emerge em nome de uma moral reinante nas cercanias das paróquias inquisitoriais?

Vejamos… Vivemos a falência de importantes valores morais, mas não se aplica tal oposição à hipocrisia, ao cinismo e ao desca­ramento que conduz “ilustres” políticos – parlamentares e minis­tros, capitaneados por autoridades do Executivo e do Judiciário – à ostensiva defesa, em atos e palavras, sem sequer se corarem!

Adotam atitudes que equivalem a indisfarçáveis confissões de culpa!

Expressam votos “técnicos” que carimbam a decisão com a evidente destinação da atitude assumida – e, repito, não se enver­gonham por isso!

E então, numa mostra de arte bancada por um banco na capi­tal mais ao sul, Porto Alegre, artista desta época dá ares atuais à arte mais refinada do milenar Kama Sutra. E a moralidade da fa­migerada (de triste memória) TFP se expressa em defesa “da famí­lia, da moral e dos bons costumes”!

À falta de sustentação filosófica, apelam para os clichês de “combate aos comunistas” (o que me remete a um provérbio da roça da minha infância: “Depois da onça morta, qualquer vira-la­ta quer mijar no couro”).

Na Renascença, a par com o rigor da Santa Inquisição (mere­ce maiúsculas? Não, salvo pela mera identidade com uma fase da História), Michelangelo concebeu nus, em pintura e escultura, ad­miráveis até hoje!

Outra mostra, com atores em movimento, expõe um homem grisalho nu e uma mãe estimula a filha criança a tocar o homem.

Vozes a favor e contra elevaram-se e ganharam admiradores e contestadores. Divulguei alguns vídeos, sem opinar. Seria neces­sário? Mas fui acusado de “divulgar o indesejável”. Uai! Minhas práticas sexuais, como as de quem quer que seja, de John Lenonn a Chiquinha Gonzaga, de Madame Satã a Fábio Júnior, são itens individuais. E esta mesma humanidade, há três mil anos, pratica muita coisa no quesito sexo que, quando adolescentes, pensamos que nós os inventamos.

Desde que os textos ganharam formas e imagens poéticas, o erotismo virou literatura. Cínicos são os que torcem narizes a isso, mas enchem o mundo de filhos – como os religiosos que “conde­nam” os fiéis, mas lambuzam-se de luxúria com mulheres (e ho­mens também, uai!) em suas intimidades.

E aparecem os pregadores da “moral cristã” ou das doutrinas “judaico-católicas”, dos preceitos difundidos por pastores e pa­dres em colheitas seletivas no Antigo Testamento, estimulando seus “fiéis” a demonstrarem que “destruir a família é meta do co­munismo, desde Marx e Engles”.

Poxa! Como manipulam a História e deturpam tudo! Digam, pois, que Platão era comunista dois mil e tantos anos antes de Marx, pois ele sugeria uma “república” em que as crianças eram transferidas pelos pais ao Estado para se formarem trabalhadores braçais, profissionais de ofício e até o ápice de poetas e filósofos – a estes cabendo o governo.

E o sexo fora do preceito religioso de “papai e mamãe, e só para a procriação”, tão enfatizado pelos religiosos e falsos moralistas, escapa das artes plásticas, em duas ou três dimensões, da literatu­ra, do teatro e do cinema.

No paralelo, essa estranha “ideologia de gêneros” que contesta a ciência e diz que “todos nascem sem sexo, a escolha vem depois” – e nisso, pelo que se propaga, até mesmo poderosíssima empre­sa de alimentos e cosméticos pega carona por conta de um antigo trocadilho do vulgo em tono das palavras “homo” e “omo”.

Que tempos, hem? Tempo de péssima escolaridade! E este tex­to sai no jornal justo neste 15 de outubro de 2017, Dia do Professor – desta vez, consagrado à heroína de Janaúba, Minas Gerais, a pro­fessora e mãe Helley Abreu Batista, por ter conseguido, indiscuti­velmente, conter o número de vítimas de um ato de insanidade.

Aos moralistas de plantão, só um recado: deixem as artes em paz, escolham vocês, caso sejam pais e educadores, como educar seus filhos para serem felizes e bons cidadãos, livres e determina­dos, em lugar de erotizá-los antecipadamente ou de impor diretri­zes às suas identidades sexuais.

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(Luiz de Aquino, professor, jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras )

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