Opinião

Sociedades Médicas fazem reserva de mercado

Diário da Manhã

Publicado em 15 de novembro de 2016 às 00:37 | Atualizado há 8 anos

Conforme pode-se ver em anexo, uma sociedade médica de especialidade é obrigada, na Justiça, a aceitar matrícula para realização de prova de titulo de médicos que fizeram pós-graduações não oficializadas pelas respectivas sociedades de especialidades. Também não é mais preciso demonstrar os seis anos de prática anteriormente exigidos (há cursos de pós-graduação com duração de menos de dois anos). Também não é mais preciso fazer curso de especialização autorizado pela sociedade de especialidade para poder fazer a prova com três anos de formado.

Isso acontece no Brasil de hoje porque há, de fato, um déficit numérico de vagas para formação especialista de médicos saídos da graduação. Este déficit, ao meu ver, pode ser contabilizado, em grande parte, por políticas restritivas, fechadas, de algumas sociedades medicas de especialidades. Eu, particularmente – coitado de mim, na minha pequenez e quixotismo megalonanico – já tentei melhorar este déficit de formação de duas formas, mas fui barrado nas duas iniciativas. Já tentei oficializar junto à uma sociedade um curso de especialização ético, com prática, e sem custo nenhum para o aluno. Barrado. Já tentei credenciar um hospital de qualidade (veja hospitalasmigo.com) para dar acreditação em prática psiquiátrica. Barrado por uma sociedade. Já tentei fazer parte de politicas da sociedade de especialidades, justamente para melhorar a formação. Barrado. E por aí vai, são inúmeras tentativas… A força do coronelismo, creiam-me, é incomensurável…

Modéstia à parte, tentei fazer isso sem interesse financeiro, só acadêmico. De certo ficaram com medo de que eu quisesse poder, ou quisesse “aparecer”… enfim… (vocês sabem que ciúmes de homem é pior do que ciúmes de mulher, né?). No Brasil, falando de modo geral, há, sim, ainda, muitos obstáculos de formação ou de iniciativa institucional para aqueles que não têm poderes em altas cúpulas de política medica. É natural que haja proteção de grupos, de poderosos, de coronéis, dentro de sociedades. É natural que haja tendências para proteção dos amigos dentro das associações. É natural que haja , em decorrência de tudo isso, interesse em reserva de mercado, restrição de mercado. Sou homem, e nada do que é humano me causa espécie. No entanto, se um grande contingente de pessoas não consegue formação adequada, por interesses corporativistas, reservistas de mercado, coronelistas, economicistas, é também natural que tentem romper, forçar, as barreiras da normalidade.

Aí a coisa fica pior, ou seja, se as sociedades médicas não agem tecnicamente, favorecendo a boa formação, vai acontecer isso que estamos vendo: ação enérgica de podero$o$ grupos de pressão, alguns conseguindo um título sem a formação técnica adequada. Saiu-se do 8 e foi-se para o 80… Ao contrário do hemisfério norte, onde há uma ação muito forte do espírito de comunidade no sentido da busca de eficiência, no Brasil, somos movidos por dois mecanismos: ora por interesses de grupos coronelísticos poderosos, com ações visando interesses puramente particulares, ora por interesses de grupos que cooptam um Estado poderoso, seja por meio de populismo socialista, seja por meio de grandes forças econômicas .

Infelizmente, nós, da sociedade, veremos o resultado desta briga de poderosos (coronéis da medicina X poderes do Estado e Econômicos) quando nossa mãe ou nossos filhos estiverem sendo tratados (ou mortos) por um inepto dentro de uma UTI.

 

(Marcelo Caixeta, médico psiquiatra.(Escreve às terças, sextas, domingos)

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