Thiago Peixoto
Diário da Manhã
Publicado em 15 de agosto de 2018 às 22:21 | Atualizado há 6 anosA notícia pegou meio mundo político de surpresa. O deputado Thiago Peixoto, estadual e depois federal, desistiu de seu projeto de reeleição. Como pode um dos mais notórios empoderados do legislativo simplesmente “largar o osso”? A mídia goiana, na verdade mais surpresa que todos, já estava acostumada à sua constante presença de opinião e representação à altura de seus muitos e muitos eleitores cativos.
Diante do fato irreversível, nos vem a pergunta: foi desistência ou amadurecimento? A resposta nos coloca de frente com a atividade autofágica em que se transformou a política e que parece não poupar ninguém. Ao mesmo tempo, nos abre para uma possível claridade no horizonte. Desistir da política como ela se coloca hoje em dia seria também um modo fazer política? A atividade, que se tornou mero simulacro e chavão dela mesma, impediria o aprimoramento pessoal de seus protagonistas, que se preocupam sisificamente em manter-se no topo?
Em se tratando de Thiago Peixoto, a resposta é que seu anúncio despreendido nos sugere que ainda pode haver algo que merece ser salvo no quadro do poder. Nem tudo estaria perdido e, no mundo desiludido do toma-lá-dá-cá, mantem-se a esperança com a afirmação de uma não-atividade que é em si um ato de nova política. Afinal, prova Thiago, tem gente que ainda se importa. O ruim destas notícias é que, na prática, os ruins vão ficando com cada vez mais espaço.
Votei no Thiago desde sua primeira eleição, em 2006. O acompanhei de forma privilegiada em sua escalada representativa, sempre proativo, inteligente e antecipador. Muitos, além de mim, perceberam de imediato seu modo diferenciado (“A minha diferença é que sou igual a você”, afirmou em uma de suas falas à população). Thiago conquistou e consolidou reconhecimento local, estadual e nacional. Sua atuação foi além do espaço político, para se tornar exemplar, sendo reconhecido também em pontuações globais, principalmente nos Estados Unidos.
Além de atuante acima da média no legislativo, Thiago se destacou como gestor nas pastas do Planejamento e da Educação no governo estadual. Foi com ele que Goiás alcançou o 1º lugar nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
Entre frutos, sementes e arados, o que teria saído de seu planejamento? Por que teria ele renunciado a uma reeleição considerada previsível? E logo agora que mais precisamos de gente como ele? O sentimento é de orfandade. Sem Thiago Peixoto o mundo político goiano empobrece-se de ideias e ações diferenciadas.
Mas eis que as pessoas não são ilhas isoladas, e para falar do Thiago Peixoto no seu aspecto restrito de homem político de mais de uma década de atuação eletiva, precisamos falar de um terceiro, seu antípoda, seu contrário. Alguém que nestes anos todos sequer mandato teve. Pois não nos causa surpresa saber que Thiago o tinha justamente ao seu lado. São coisas da política, diria um melhor observador. Da velha política, frise-se, que é aquela que Thiago agora abandona.
A resposta de sua saída pode passar pelas ordenações nem sempre muito claras de seu partido, reconhecidamente o partido de um grande sapo. Thiago escolheu o Partido Social Democrata (PSD). E o PSD em Goiás tem um dono. São ainda assim as coisas na velha política. Cheia de donos, ciumenta, rancorosa e ultrapassada. Aliás, o dono do PSD é sem dúvida alguma o político mais antigo de Goiás, independentemente de sua idade biológica. Figura jurássica e anacrônica, a ponto de ser considerado um profissional estabilizado no ramo em que não se trata de profissão, mas de vocação para o novo.
Vilmar Rocha, venerável presidente goiano do PSD, é tão das antigas que parece ter vindo da Era Vargas. Se não atuou, com toda certeza ao menos nela se mira em seu presente eternamente passadista. Vilmar é daqueles que rescende a fio de barba e a conversa de pé de ouvido servida a rapé. Devido à rede de proteção construída em torno dos “empartidados” como ele, Vilmar consegue sobreviver em cima de um muro em que se risca a giz, para facilitar eventuais mudanças de traçado. O que ele faz com devotada habilidade.
Credite-se, pois, ao Vilmar Rocha uma parte substancial na desistência de Thiago Peixoto continuar na vida pública. Ao conduzir seu partido para um posicionamento dúbio, o seu próprio presidente fez com que o PSD se tornasse uma agremiação bipolar. Seus quadros atualmente integram a base governista e apoiam seu candidato ao governo, enquanto Vilmar só apoia a sua eleição, desta vez como suplente de Marconi Perillo, que agora o carrega literalmente no colo. Em tom mal agradecido, VR já mandou avisar que não participará da campanha. Estará em São Paulo, de onde espera surgir no Senado da noite para o dia, como o siamês impossível de se separar da velha e desgastada política. Pensando bem, o bye bye do Thiago não foi surpresa alguma.
(Px Silveira – Instituto ArteCidadania, presidente)
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