Opinião

Trabalhando pra galego e seu descanso

Diário da Manhã

Publicado em 28 de junho de 2017 às 21:58 | Atualizado há 8 anos

O trabalho é uma dádiva e dignifica o homem, espantando o ócio, mas, convenhamos, o descanso é a recompensa, já que a carne e o osso não são ferro e aço. Posto que, o sonho de todo mundo é curtir seu descanso e lutar pela felicidade.

Certa vez, indagaram a José Lins do Rego se por acaso escrever era lá tipo de trabalho, ao que respondeu duramente nestes termos: “Para quem olha o mundo pelo ângulo da cangalha que usa, não!” É sabido que na atual conjuntura cultural do País, escrever é relegado a hobby, salvo o rascunho da auto-ajuda ou os comerciáveis chinfrins. Ariano Suassuna fala que o objetivo do trabalho é conquistar a preguiça que ele proporciona depois. E uma espécie de trabalho digno e criador, livre e gratuito, dedicado e amoroso é o dos poetas e artistas.

Há resistência contra a modernidade e o progresso. O Brasil superposto da burguesia cosmopolita, castrado, sem-vergonha e superficial é constantemente simbolizado pelos modismos estrangeiros. E os burgueses, cada vez mais devassos, falam mal do povo, pela sua preguiça e ladroagem. Mas esses furtos famélicos são grãos de areia se comparado à roubalheira organizada dos poderosos. Por exemplo: as grandes indústrias cada vez mais fabricam peças frágeis, precisando continuamente de substituição, dando lucros fabulosos, à custa da especulação dos pobres, esse povo que trabalha intensamente e é muito mal-remunerado, e ainda corre o risco do “ócio forçado”, o lazer a pulso do desemprego. Por isso, pode haver “nobreza e criação na preguiça, feiura e roubalheira no trabalho”.

De fato a tecnologia e o progresso conduzem à nova era para libertação da inferioridade e dependência econômica. Temos que aprender o que vem de fora sem perder a identidade, para não cair na lábia da conversa universal globalizada, uma espécie de “esperanto cultural”. No último século privilegiaram a cultura europeia, de origem greco-latina, supervalorizada, mas nem por isso as outras são “exóticas ou inexpressivas”. Inclusive, a escultura hindu, inca e asteca pode ser até melhor que a grega.

Com esse atual governo e seu pacote de maldades que propõe dilacerar direitos, fica difícil esperar que o Brasil trabalhe para seu próprio benefício e não pra galego. Se há um falso apontamento de que lá fora as coisas simplesmente prosperam, é porque o investimento sistêmico e compromissado com a economia não deve se pautar em adquirir montantes volumosos, cujos juros galopam ao vento. O risco do empréstimo impagável.

Na década de 30, o Nordeste era repleto de pequenas fábricas de beneficiamento de algodão, despontando na economia mundial. O capital estrangeiro implantou modernas indústrias e subiu o preço na aquisição do algodão. Os fazendeiros venderam toda a produção para as novas indústrias, quebrando as fábricas brasileiras, e como o preço do algodão bruto ficou próximo do algodão beneficiado, de fato, todas acabaram. Depois disso, o vislumbre dos produtores se ruiu quando baixaram o preço do algodão. Eis uma crise forçada e planejada. Todo mundo quebrou, e trabalhou muito pra ficar endividado, e o lucro restou para o ócio estrangeiro. Foi assim que o Brasil, mais uma vez, trabalhou pra galego.

A Coca-Cola comprou várias fábricas, como a antiga Crush, e já propôs comprar a atual Jesus do Nordeste, que, aliás, tem dificuldades pra chegar aqui na terra do meio. Várias empresas chegam por aqui, intencionadas com a boa procedência, garantindo emprego e progresso, talvez, também planejando outra crise forçada. Não adianta, o trabalho só objetiva o descanso próprio. Mesmo o voluntário, preenche uma lacuna espiritual própria. O trabalho é individualista. O suor excessivo só planeja mais sono. A labuta mais dura só pensa na preguiça. Tomara que o Brasil também pense no bom descanso do seu povo. Essa reforma da previdência procrastina e deturpa o descanso do povo… O Brasil é riquíssimo, se os devedores pagassem a previdência e a roubalheira não existisse, não estaríamos nesse caos! Merecemos uma pausa e uma esperança de um futuro próximo descanso. Eu estou precisando! Por acaso, você, não? Até a próxima página!

 

(Leonardo Teixeira, escritor)

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