Opinião

Tradição e inovação

Diário da Manhã

Publicado em 23 de dezembro de 2017 às 23:57 | Atualizado há 7 anos

As in­ven­ções são, qua­se sem­pre, no­vas rou­pa­gens de coi­sas já co­nhe­ci­das, ou ao me­nos par­te de coi­sas já co­nhe­ci­das. Se pa­ra Aris­tó­te­les o en­can­ta­men­to vem, in­clu­si­ve e prin­ci­pal­men­te, pe­lo re­co­nhe­ci­men­to, Freud ex­pli­cou o es­tra­nho co­mo al­go já co­nhe­ci­do, mas em con­tex­to dis­tin­to. De um mo­do e ou­tro, a ino­va­ção, mes­mo em pro­ces­so dis­rup­ti­vo, é mais uma ar­ti­cu­la­ção de pen­sa­men­to, que o sur­gi­men­to de al­go com­ple­ta­men­te no­vo.

Foi as­sim com o Na­tal, que é a rou­pa­gem cris­tã da fes­ta pa­gã de­di­ca­da ao deus Sol, tam­bém a Sa­tur­no, deus da Agri­cul­tu­ra, e à deu­sa per­sa Mi­tra, e que mar­ca o sols­tí­cio de in­ver­no no he­mis­fé­rio nor­te. Em 350 d.C., o Pa­pa São Jú­lio I de­cre­tou o 25 de de­zem­bro co­mo da­ta ofi­ci­al pa­ra co­me­mo­rar o nas­ci­men­to de Je­sus Cris­to, ti­ran­do pro­vei­to de fes­te­jos já exis­ten­tes. Foi a in­ven­ção de uma tra­di­ção que al­can­ça nos­so tem­po.

As in­ven­ções são a mar­ca da His­tó­ria, ela mes­ma uma in­ven­ção. O mar­co ofi­ci­al da pas­sa­gem da Pré-His­tó­ria pa­ra a His­tó­ria, a in­ven­ção da es­cri­ta, em apro­xi­ma­da­men­te 3.500 anos a.C., é pro­va dis­so. O ca­len­dá­rio cris­tão, co­mo o co­nhe­ce­mos, é uma in­ven­ção do sé­cu­lo XVI e pra­ti­ca­do a par­tir de 1582, gra­ças ao pa­pa Gre­gó­rio XI­II, que pro­pôs al­te­ra­ções ao ca­len­dá­rio so­lar já usa­do na épo­ca. Não por ou­tro mo­ti­vo o ca­len­dá­rio fi­cou co­nhe­ci­do co­mo gre­go­ri­a­no. A con­ta­gem dos anos é, des­se mo­do, um ajus­te re­a­li­za­do no sé­cu­lo XVI.

En­tre ino­va­ções e tra­di­ções, o ser hu­ma­no se ins­cre­ve no mun­do e es­cre­ve sua his­tó­ria. Em uma con­tem­po­ra­ne­i­da­de, cu­jo mo­de­lo so­ci­al dei­xou as ra­zões re­li­gi­o­sas e se or­ga­ni­za a par­tir da ci­ên­cia, não tar­da­rá pa­ra ter­mos no­vos con­tex­tos, ain­da que se man­te­nham da­tas e fes­te­jos, co­mo a cris­tan­da­de fez em re­la­ção às fes­tas pa­gãs. Es­se pen­sa­men­to re­for­ça uma das má­xi­mas da ino­va­ção: ino­va­ção não se re­la­ci­o­na ne­ces­sa­ria­men­te com al­go no­vo, mas com no­vas for­mas de ge­rar va­lor.

O pen­sa­men­to ino­va­dor não tar­dou pa­ra so­bre­por o bom ve­lhi­nho, Pa­pai No­el, a São Ni­co­lau, ge­ne­ro­so bis­po e san­to ca­tó­li­co do sé­cu­lo IV, em evi­den­te pro­ces­so de ino­va­ção so­bre a tra­di­ção. Ain­da que su­as ca­rac­te­rís­ti­cas con­tem­po­râ­ne­as só te­nham si­do apre­sen­ta­das nos anos  1880, em cri­a­ção grá­fi­ca do ilus­tra­dor ale­mão Tho­mas Nast, a tra­di­ção vem de há mui­to tem­po, pro­du­to de cons­tan­te trans­for­ma­ção e fu­são.

Es­ses fa­tos nos aju­dam a lem­brar que a tra­di­ção é uma in­ven­ção, man­ti­da pe­la cul­tu­ra de um po­vo, por­tan­to, de­mar­ca­da por um tem­po his­tó­ri­co e um lu­gar. Não exis­ti­ram sem­pre, tam­pou­co exis­tem em to­dos os lu­ga­res. A tra­di­ção de ho­je foi, um dia, uma ino­va­ção, que nos al­can­ça em fun­ção da cul­tu­ra man­ti­da e es­pa­lha­da no tem­po e es­pa­ço. Tra­di­ção e ino­va­ção são ele­men­tos pró­prios da cul­tu­ra. Ino­var é tra­di­ção, des­de an­tes mes­mo des­ses dois con­cei­tos se­rem con­ce­bi­dos e com­pre­en­di­dos. E pa­ra man­ter a tra­di­ção, de­se­jo um óti­mo sols­tí­cio de ve­rão a to­dos, que po­de ser tra­du­zi­do, em nos­so tem­po e cul­tu­ra, co­mo  Fe­liz Na­tal.

 

(Prof. Dr. Cle­o­mar Ro­cha Se­cre­tá­rio de Ci­ên­cia, Tec­no­lo­gia e Ino­va­ção Pre­fei­tu­ra Mu­ni­ci­pal de Apa­re­ci­da de Go­i­â­nia @cle­o­mar­ro­cha PPG Ar­te e Cul­tu­ra Vi­su­al | FAV | UFG – pro­fes­so  Me­dia Lab BR – Co­or­de­na­dor Pes­qui­sa­dor PQ CNPq www.me­di­a­lab.ufg.br)

 

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