Opinião

Um dia não dá para nada. Falta tempo? O tempo está curto?

Diário da Manhã

Publicado em 18 de março de 2016 às 01:13 | Atualizado há 9 anos

Você com certeza já pensou que “o tempo está passando mais rápido ultimamente”. É comum pensar isso, tanto, que diversos pesquisadores estudam os motivos para termos esse tipo de impressão. A curiosidade envolve o fato de que o tempo é algo exato e não deveria parecer diferente, mas a resposta passa pelo nosso cérebro e percepção do tempo.
O tempo está se acelerando. Um dia continua tendo 24 horas, 1 hora vale 60 minutos e, aleluia, cada minuto ainda tem 60 segundos – nem tudo está perdido. Mas há uma sensação generalizada de que não conseguimos fazer tudo que queremos. Falta tempo. Pagamos fortunas por engenhocas tecnológicas que deveriam facilitar nossa vida e continuamos com uma pressa insaciável. Você já deve ter sentido os efeitos desse fenômeno. Lembra quando a internet surgiu? Da maravilha que era saber que trocaríamos mensagens instantâneas e teríamos a biblioteca de Harvard ao alcance, bastando um clique no mouse. Agora pense na última vez que você recebeu um arquivo eletrônico pesado. E dos segundos que esperou para abri-lo, amaldiçoando a velocidade do computador, do provedor, da placa multimídia e do modem. Esses incompetentes que nos obrigam a esperar insuportáveis segundos para baixar…um livro inteiro!
A tecnologia então disparou a oferecer velocidade a quem quiser consumi-la. “Todo o desenvolvimento tecnológico tende a deixar os processos mais rápidos”, diz Edward Tenner, especialista em história da tecnologia da Universidade Princeton, nos Estados Unidos. Uma volta ao shopping mostra como essa pressão ocorre: é praticamente impossível encontrar um produto (de telefones celulares a espremedores de laranja) que seja mais lento que sua versão anterior.
O boom seguinte é mais recente. Aconteceu no final do século 20 e transfigurou nossa capacidade de nos comunicar. “A tecnologia e a internet provocaram uma revolução na troca e na quantidade de informações”, diz o jornalista James Gleick, autor de Acelerado, livro que debate causas e efeitos da velocidade. “Uma coisa acelera a outra e nos vemos num círculo vicioso aparentemente inquebrável: a tecnologia gera demanda por velocidade, que empurra o desenvolvimento de novas tecnologias que precisam ser mais rápidas”, diz. Assim, logo estamos desesperados para ter o chip que aumenta a memória RAM de 128 para 256 megabytes – mesmo sem saber o que fazer com os poucos segundos que lucramos com a mudança (talvez chegar em casa mais cedo para ficar entediado, com “saudades do trabalho”). Antigamente, qualquer pessoa que colocasse uma carta no correio sabia que ela iria demorar semanas para chegar ao destinatário. E, acredite, o mundo e os escritórios funcionavam. Hoje, os serviços de entrega devem ser imediatos. Com a invenção dos motoboys, Fedex, DHL e Sedex é cada vez menos justificável fazer alguém esperar além das 10 horas da manhã seguinte.
O resultado dessa avidez para “ganhar” tempo é que estamos cada vez mais com a sensação de perdê-lo. Pesquisadores afirmam que uma pessoa hoje sente que ele passa mais rápido do que para alguém que viveu há cem anos. E dão até uma estimativa de quanto: de 1,08 vez, para quem tem 24 anos, a 7,69 vezes, para quem tem 62 anos – a diferença seria causada pelo período de exposição à vida em alta velocidade. Fonte pesquisa. S.Interessante.
Claro que as definições de segundo, minuto, hora e dia continuam as mesmas, apesar dos pequenos ajustes que são feitos periodicamente no chamado UTC (Tempo Universal Coordenado). Mas a rotação da Terra vai ficando um pouquinho mais lenta a cada século e, dentro de alguns milhões de anos, será preciso estabelecer que um dia tem bem mais do que 24 horas. Há cerca de meio bilhão de anos, por sinal, o dia durava pouco mais de 22 horas e um ano tinha quase 400 dias.
Tudo isso pode ser comprovado pelo estudo dos fósseis, que funcionam como calendários naturais, e também de eclipses. Estimativas indicam que a volta completa da Terra em torno de si mesma aumenta 1,7 microssegundo por século (cada microssegundo equivale a um milionésimo de segundo), algo imperceptível na escala humana.
A interação com a Lua não é a única responsável por mudanças na duração dos dias. O terremoto de 8,9 graus na escala Richter que assolou o Japão em 2011 foi tão forte que acelerou a rotação da Terra e encurtou os dias em 1,6 microssegundo, segundo a Nasa. Algo parecido ocorreu por causa do terremoto no Chile, um ano antes. Já o abalo de Sumatra, em 2004, causou uma aceleração de 6,8 microssegundos, segundo cientistas.
A mudança se dá porque os tremores obrigam a Terra a fazer uma espécie de rearranjo geológico e parte da massa se aproxima do eixo, causando modificações. Vale destacar que os cientistas se referem ao eixo imaginário de rotação da Terra, não ao eixo Norte-Sul.
“Eventos como terremotos e tsunamis podem tanto acelerar quanto retardar o período de rotação terrestre. Mas estamos falando em escalas de tempo muito grandes, ou seja, milhões de anos. O efeito predominante é a interação Terra-Lua”, afirma o astrofísico Gustavo Rojas, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ou seja: quem estiver na Terra num futuro longínquo (se é que o planeta ainda vai existir) não poderá reclamar que um dia não dá para nada.

(André Junior – Membro UBE – União Brasileira de Escritores – Goiás [email protected])

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