Uma das três
Diário da Manhã
Publicado em 10 de outubro de 2018 às 00:31 | Atualizado há 6 anosContam-nos as histórias antigas, no tempo do período romano, que um imperador não contente com o trabalho do general, frente às ultimas batalhas, intimou-o a comparecer ao senado para esclarecer o motivo de tantas derrotas.
Atendendo de imediato a intimação, o comandante apresentou-se juntamente com seus auxiliares ao senado, onde presente estava o imperador. Após a apresentação e cumprimentos de praxe, o intimado pediu ao Sr. imperador e aos senadores que lhe permitissem alguns minutos para um simples esclarecimento. Concedida a permissão, o comandante fez a seguinte comparação: um professor de alto gabarito querendo colaborar com seus alunos na matéria exigida pela diretoria do colégio, que valeria três pontos nos exames finais, empenhou-se durante todo período que lhe foi dado e os alunos estudaram intensamente, mas, infelizmente, não tiveram êxito e todos foram reprovados.
Em face disso, o professor foi convocado a comparecer à diretoria para prestar esclarecimentos. Disse então ao diretor que uma ou mesmo três coisas poderiam ter acontecido: 1ª) o professor não foi capaz de ministrar bem a matéria; 2ª) os alunos talvez não tivessem inteligência suficiente para o aprendizado dela; 3ª) a matéria estaria acima da capacidade intelectual do próprio professor.
Indagou o diretor: O que se pode fazer para resolver tal situação? Respondeu o professor: Há três saídas para que se escolha uma delas: 1ª) trocar o professor por um mais competente; 2ª) ver se a matéria se enquadra no nível de conhecimento dos alunos; 3ª) tirar a matéria da prova.
Impaciente, o imperador perguntou: A final, o que essa história tem a ver com sua intimação perante esta corte? Ela tem muita semelhança, retrucou, porque eu e toda a tropa recebemos do senhor, com a aprovação dos senadores, uma ordem para eliminar, se possível, todos os cristãos, por considerá-los nossos inimigos. Pois bem, tentamos cumprir a ordem, mais tivemos dificuldade, porque, quanto mais cristãos nós matamos, mais cristãos aparecem para serem mortos; quanto mais cristãos crucificamos, mais aparecem para serem crucificados e quanto mais cristãos prendemos, mais surgem para serem presos. Tudo parece estar errado, ou pelo menos uma ou outra dentro das seguintes hipóteses: 1ª) ou eu não sou competente para cumprir a ordem; 2ª) ou os soldados são também incapazes para executá-la; 3ª)ou então estes cristãos são imbatíveis.
Os senhores poderiam perguntar-me: O que fazer? Eu responderia que há também três saídas: 1ª) trocar o comandante; 2ª) capacitar mais nossos soldados; 3ª) aceitar o cristianismo, porque seus adeptos não são maus, que eu saiba nunca mataram um soldado.
Hoje, aqui no Brasil, “mutatis mutandis”, estamos vivendo momento muito parecido. Gastam-se fortunas e vidas no combate aos traficantes de drogas. Quanto mais são combatidos, mais traficantes aparecem; quanto mais são presos, mais surgem para serem aprisionados. Quantos drogados são conduzidos aos hospitais para tratamento e a quantidade deles não diminuem, só aumentam. Chega-se, por conseguinte, à conclusão, de que uma, duas ou mesmo três coisas estão erradas. Indaga-se então: Será que não temos competência para eliminar o tráfico? Será que não temos presídios com atividade educacional e profissionalizante a fim de reeducarem os detentos no caminho do bem? Será que não temos hospitais para habilitarem os viciados em pessoas normais?
Pergunta-se agora aos nossos governantes e parlamentares o que se deve fazer? Trocar os comandantes e seus comandados? Construir casas de saúde especializadas no tratamento de viciados? Liberar com uma boa fiscalização o consumo de drogas?
Está nas mãos dos senhores a responsabilidade de escolher ou criar outras alternativas para a solução de tais problemas, lembrando sempre que os usuários não são bandidos, mas vítimas e acima de tudo nossos irmãos.
(Salomão Jorge. Ex-gerente da extinta Caixego e Mestre Instalado da loja maçônica “Ordem e Progresso” de Goiânia)
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