Opinião

Vade retro inflação!

Diário da Manhã

Publicado em 20 de novembro de 2015 às 21:40 | Atualizado há 9 anos

Nos idos dos anos noventa do milênio passado, numa pequena, pacata e acolhedora cidade, o seu “mercado financeiro” se situava nos bancos da praça onde se localizava o único estabelecimento bancário local. Era ali que se ajuntavam os chamados “gambireiros”, que confiantes na estratosférica inflação que em dois meses corroía totalmente um valor tomado em empréstimo, viviam a fazer uma ciranda em que um contraia uma dívida no banco e os outros avalizavam o que, por pequena a localidade, fazia com que todos os cotidianamente frequentadores das imediações do banco fossem ao mesmo tempo devedores, bem como avalistas entre si, uns dos outros.

Com o advento do plano real que com o objetivo de domar o monstro hediondo da inflação (o que a atual e inepta administração federal vem fazendo de tudo para ressuscitar), provocou um grande baque positivo na economia brasileira para o soerguimento das finanças públicas e privadas, porém provocando inicialmente muito desassossego naqueles que foram pegos desprevenidos confiantes na corrosão diária da nossa moeda.

Isso naquele pequeno município levou a um corre corre para as lojas em busca de malas, pois com o fortalecimento da moeda nacional, em paridade com o dólar, a maior parte daqueles operadores da “bolsa de valores da praça” já na condição de inadimplentes, quebrados, buscaram se mudar para Lins, não a cidade no estado de São Paulo, mas para Lugar Incerto Não Sabido, tentando fugir das inúmeras dívidas agora quase que impagáveis.

Quem teve a oportunidade de viver aqueles tempos, bem sabe que os comerciantes sem escrúpulos, verdadeiros gatunos, viviam com um olho no seu comércio e o outro na tabela de preços do seu concorrente, muitas vezes o valor cobrado de quase todos os produtos, sendo majorado quatro, cinco, seis vezes num só dia, numa loucura total, sempre em prejuízo dos pobres consumidores, impotentes para se salvaguardar desses assaltos aos seus bolsos.

Atualmente, após um estelionato eleitoral no ano passado, em que a parte tapada da população brasileira (felizmente só um “pouquitinho” mais da metade dos portadores de titulos de eleitor), não se convenceu de que as coisas não estavam nada boas e, de novo, a alta desenfreada de preços rondando com voracidade as nossas portas e o resultado hoje está aí, combustíveis nas alturas, desemprego, greves por todas as bandas, arrochos salariais, congelamentos atrasos e cortes em salários de servidores públicos (com ameaças implícitas e toda a sorte de pressão, num verdadeiro terrorismo), bem como negativas de se cumprir a lei como a data base enfim, a célere instauração do caos, cujos reflexos estão sendo notados por todos os cantos.

E é, nessa hora, que se percebe a insensibilidade, a ganancia de alguns setores, como se tem divulgado que na cidade de Governador Valadares, em face do desastre ambiental de Mariana, os inescrupulosos estão cobrando horrores por recipientes de água mineral, como também pelo país a fora, em que varejistas de gás de cozinha, ante a greve dos petroleiros, estão abusivamente cobrando quase que o dobro, ou ele, por um botijão do produto, aproveitando a continuada escassez na entrega para os postos de revenda, num abuso sem limites e que atinge todas as camadas da sociedade brasileira, porém com maior ênfase para os mais pobres, à mercê dessa rapinagem, verdadeiro assalto ao bolso de todos os consumidores.

Seria hilário se não fosse de consequências bem difíceis, ver “esse povo” que hoje se acha à frente da administração, ficar a “bodejar” que tem que voltar a CPMF, que tem que aumentar as alíquotas do imposto de renda, etc, etc, porém omitindo que são eles próprios após quase 14 anos de desgoverno (no inicio bem camuflado, pois estavam a colher os louros vindos da seriedade das duas administrações anteriores) os maiores e exclusivos culpados por esse estado de coisas alcançado, sobretudo, pela desenfreada corrupção instaurada concomitantemente com o inicio do ano de 2003, quando assumiram o comando da nação (infelizmente).

Com certeza o Brasil tem solução, tem cura, temos que acreditar nisso. Porém tentar impor apenas à população todo o ônus pelas mudanças necessárias e prementes é não querer resolver de vez o problema, pois se continuar a gastança da união, sem os cortes exigidos e a dose de sacrifícios alcance também a horda que se encastelou e se refastela nos gabinetes em Brasília, tudo que se fizer terá efeito apenas provisório, um mero paliativo, restando nos tão somente continuar carregando esse pesado fardo e, ao rezar, implorar a Deus que nos proteja. Vade Retro inflação!

 

(José Domingos, jornalista, auditor fiscal, professor universitário, escritor e poeta)

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