Vampiros políticos
Diário da Manhã
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 23:28 | Atualizado há 6 anosA espécie científica Gatunus Larápis Caradipalus encontra-se em plena atividade no cerrado brasileiro. Vivem sob os auspícios do planalto seco, na capital federal se reúnem às espreitas, sibilando o coleio dos golpes cifrados do capitalismo.
Por incrível que pareça, são alavancados do populacho no pleito oficial. E lá figuram seus risos amarelos e tapinhas nas costas, entre ponderações da verve mais retórica possível. Mas escondem-se atrás dos escudos do poder, por baixo das couraças da imunidade parlamentar e se orientam das tramoias por baixo dos panos.
São capazes de tramitar a burocracia legislativa aos ditames de seus instintos intestinais. São cobertos de verbas especiais, indenizatórias, férias múltiplas e despesas pagas pelo povo. Nutridos de quitutes e iguarias sobrenaturais, ao melhor estilo dos manjares divinos, pagos também com ouro alheio; eles são incrivelmente escolhidos pelo voto obrigatório, direto, secreto, universal e periódico, mantido por outras fontes de inúmeros partidos e caixas dois.
Volta e meia desertam as casas legislativas para tramar seus conluios. Sangue sugam o pouco do que resolveria grande parte dos problemas nacionais. Vampirizam seus pares, acusam os outros de refletir melhor imagem nos espelhos dos palácios.
Costumam imperar marajás da boa vizinhança, salvo os vários momentos de conflitos, onde inúmeros palavrões decorados são destilados venenosamente após a pomposa introdução do pronome de tratamento Vossa Excelência (é um fdp, por exemplo).
Superfaturam obras e se especializam nas entrelinhas das contas oficiais dos Tribunais de Contas forçosamente concordantes. Também são aptos e calejados na arte do investimento das bolsas de valores, aplicando muitas vezes na exportação dos paraísos fiscais.
Morcegam soturnos, na calada da noite votam e modificam os projetos legais, na surdina desprezível que lhes acomete (como diria o poema) e sempre e tanto.
Foi assim que tentaram anistiar alvos da Lava Jato; foi assim que desfiguraram as medidas contra a corrupção; tentam virar o jogo e punir juízes; aumentam seus altos salários mesmo diante da enorme crise econômica; fazem piada com a dificuldade de aposentadoria do povo (sem falar no corte do teto salarial), mesmo sabendo que eles próprios se aposentam muito rapidamente e com integralidade.
Tudo é feito na cara dura, de Pau-Brasil, lustrados ao óleo de peroba do jeitinho brasileiro. Os morcegos corujões da madrugada estilhaçam seus lucros regados pela maracutaia, contando com a pouca memória dos anfitriões da terra Brasilis.
Mesmo com o povo de luto, negando o que é dito nas ruas e gritado em súplica pelo povo, os políticos dão as costas e olham seus umbigos, imaginando suas próximas obras da traquinagem.
A fanfarra conclama deputados e senadores no auxílio presidencial que detém o Congresso na mão. A trama está feita. Ardilosa veemência se aproxima com terrível desiderato. Privilégio, sufrágio, escrutínio: escarro!
Palavrões da ingrisia se detestam neste texto tão áspero. O povo, escravizado, doa sangue, suor e lágrimas, carregando água quente para manter as jacuzis de seus representantes na temperatura adequada.
O que se pode dizer, sem a proteção incessante das imunidades, salvo talvez a pouca liberdade de pensamento e da imprensa, é que aquelas Vossas Excelências estão aptas a darem aulas para toda a trupe do inferno! Quem disse isso foi Dante… Se não o fez, perdeu a oportunidade de soltar essa pérola, que, por parábola, Cristo disse não ser adequada para se dar aos porcos! Até a próxima página!
(Leonardo Teixeira, escritor)
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