Willamara Leila, mártir da ditadura do Judiciário, de Liberato Póvoa
Diário da Manhã
Publicado em 13 de agosto de 2018 às 23:32 | Atualizado há 6 anosO insigne ex-desembargador do Tocantins, Liberato Póvoa, paradigma rector forense, abordou em seu artigo de 22/07/18, a penosa odisseia da sua colega Willamara Leila, mártir da ditadura do Judiciário, assim por ele cognominada. Em sua corajosa e candente tribuna livre, esse guerreiro intrépido nas lutas temerárias, discute “inter alia”, o voluntarismo do CNJ atendo-se a analisar o assunto sob outro prisma, após afastar o ressentimento de revolta que o leigo parece carregar consigo, reagindo com estranheza quando este órgão aplica a pena de aposentadoria compulsória a um magistrado com vencimento proporcionais ao tempo de serviço, afirmando que o apenado foi premiado com a manutenção de seus vencimentos, sob a denominação de proventos, além de também criticarem o fato de um magistrado conservar seus ganhos depois de um eventual afastamento.
A voz firme desse magistrado que já foi paralelamente acossado de todas as formas pelo CNJ/STJ, com a Polícia Federal na sua “cola” vinte e quatro horas por dia, proibindo-o até mesmo de entrar em cartórios, acorda em nós o grito da liberdade, enfibrada na fortaleza do seu caráter. A coragem é inata nesse lídimo representante do Judiciário, que nunca se calou nos meandros do intestino dos tribunais, “dictate” de estratagemas que defenestra quem lhes aprouver, como é o caso da magistrada Willamara Leila, vítima de uma sofisticada sofistaria.
Em entrevista ao “Estadão” em 16 de julho passado, ela afirmou que existe “compromisso” e “política infiltrada” nos tribunais. “Gostaria de ter sido julgada logo nos primeiros anos, ainda que fosse condenada”. “Gostaria de ser julgada para não viver nessa pseudoprisão em que vivo.” “Isso é um mal muito maior para o réu do que se estivesse sido julgada com celeridade”, afirmou. Essas duras ameaças insurgidas de uma canhestra e sibilina seara jurídica imantada de lacrações e tretas, atingiu os ideais desse guerreiro de fanal de lutas libertárias que reagiu de bate-pronto: “pelo que Willamara Leila afirmou, sua defesa foi vergonhosamente cerceada, e corroboro o que ela disse, pois senti na própria pele a safadeza desse CNJ, que a subtraiu do mercado de trabalho abruptamente para satisfazer políticos, como também fui, e ela queria trabalhar para fazer jus à remuneração, pois ainda hoje tem plena condição física e intelectual para trabalhar – reconhece ela – e aqui mais uma vez dou-lhe o meu aval – que existe corporativismo e política infiltrados nos tribunais”.
Expulsa do cargo cavilosamente, uma bufonaria que não lhe concedeu a mínima chance para se defender, essa ilustre gestora há sete anos afastada da sua plena atividade no exercício da presidência de um tribunal, amarga um nefasto cerceamento da sua liberdade causada pela torpe inveja de políticos turbinados de ódio, afrontados com a exuberância da sua profusa atividade e produção. Os políticos de inópia mental acharam que sua visibilidade ofuscava os seus cargos. Em apenas um ano e dez meses, a magistrada sacada das suas funções, inaugurou dez fóruns das sessenta obras construídas em todas as cidades.
Esse injustiçamento trouxe à baila a fulminância desse detentor de lauréis acadêmicos que não se cala nunca diante dos gritos de ameaças, nem se curva no silêncio de conivência dos poderosos da política que mistura Justiça com política, como ele mesmo afirmou em seu artigo de vis acusatória malsinando um tribunal enodado de vinditas persecutórias, a cavaleiro para opinar, que chegou a ser afastado passando mais de quatro anos fora do Judiciário, com sucessivas e ilegais prorrogações pelo ministro João Otávio de Noronha, sem que o STJ encontrasse indícios de provas.
O súbito no seu cerceamento vergonhoso impedindo-a de contemporização por decisão dos poderosos tornou-se um calvário para essa gestora covardemente silenciada pela sofreguidão dos que se arvoraram donos do tempo no escuso dos expedientes atrasados. Quantos tentaram calar a sua inexorável luta pela Justiça para retardar o futuro, mas não conseguiram?
Esse acinte o chamou para dar voz a essa jurista, assim como também ele dá voz a todos os que forem conspurcados em seus direitos. O seu ideário libertário que está sempre com a razão se ergue contra todas as injustiças, afirmando que há duas classes de pessoas que, para fazer média com o povo, numa hipocrisia sem limites, extrapolam: os militares e a magistratura que, para mostrar que “cortam na própria carne”, punem com excessivo rigor seus próprios companheiros para aparentar uma falsa Justiça, e no caso de Willamara Leila, preferiram deixar prescrever os crimes que ela não cometeu para não terem a humildade de reconhecer o erro e não a absolver. Não é do seu estofo se calar diante das injustiças. A dor da magistrada o desespera no seu sentimento de justiça: “A ditadura do Judiciário é pior do que a mais totalitária das ditaduras”.
O seu grito de liberdade sempre falará mais alto nesse douto articulista que se solidariza com a provação dessa desembargadora que busca inutilmente resgatar a sua condição na OAB e anular sua aposentadoria, vítima do corporativismo do STF que engavetou o seu pedido apagando a chama do seu ideal, fadada a sobreviver penosamente com a metade do seu salário. Esse é o barro, como diria Teotônio Vilela: “Um Judiciário que estigmatiza com a convicção déspota erguendo uma flâmula no alto de um promontório das suas amarras mostrando que a aposentadoria não é um prêmio, mas um castigo”, finalizou.
(Edvaldo Nepomuceno, escritor)
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