Politica

Anigo realiza ato em defesa do direito à memória e à verdade

Diário da Manhã

Publicado em 27 de agosto de 2016 às 02:52 | Atualizado há 1 semana

  •  Número de mortos e desaparecidos em Goiás pós-1964 totaliza 15 pessoas
  •  Mauro Borges foi deposto em 26 de novembro, apesar de ter apoiado o golpe
  •  Assalto ao Tiro de Guerra, Guerrilha do Araguaia e revoltas de 68 sacudiram Goiás
  •  Com anistia em 1979, presos foram soltos e exilados retornaram
  • Os mor­tos e de­sa­pa­re­ci­dos, além dos pre­sos po­lí­ti­cos tor­tu­ra­dos após a ins­ta­la­ção da di­ta­du­ra ci­vil e mi­li­tar de 1964 no Bra­sil, se­rão ho­me­na­ge­a­dos, em ses­são gas­tro­nô­mi­ca e po­lí­ti­ca, ho­je, a par­tir das 12h30, no Clu­be da Aseg [As­so­cia­ção dos Ser­vi­do­res da Cai­xa Eco­nô­mi­ca Fe­de­ral], na Ave­ni­da T-8, es­qui­na com a T-1, Se­tor Bu­e­no, em Go­i­â­nia. É o que in­for­ma o pre­si­den­te da As­so­cia­ção dos Anis­ti­a­dos do Es­ta­do de Go­i­ás [Ani­go], o pro­fes­sor de His­tó­ria apo­sen­ta­do Mar­can­to­nio De­la Cor­te.

    – Em de­fe­sa do di­rei­to à me­mó­ria e à ver­da­de!

    O nú­me­ro de mor­tos e de­sa­pa­re­ci­dos no Es­ta­do de Go­i­ás to­ta­li­za 15 pes­so­as, re­gis­tra o pes­qui­sa­dor. In­te­gra­riam a re­la­ção Ho­nes­ti­no Mon­tei­ro Gui­ma­rã­es, Mar­cos An­tô­nio Di­as Ba­tis­ta, Jo­sé Por­fí­rio de Sou­sa, Dur­va­li­no de Sou­sa, Is­ma­el Sil­va de Je­sus, Pau­lo de Tar­so Ce­les­ti­no da Sil­va, Di­vi­no Fer­rei­ra de Sou­sa, Ar­no Preiss, Bo­a­ner­ges de Sou­sa Mas­sa, Je­o­vá de As­sis Go­mes, Rui Vi­ei­ra Ber­bert, Ma­ria Au­gus­ta Tho­maz, Már­cio Beck Ma­cha­do, Cas­si­mi­ro de Frei­tas e Or­na­li­no Cân­di­do da Sil­va.

    – Cen­te­nas fo­ram pre­sos ile­gal­men­te, tor­tu­ra­dos e exi­la­dos.

    En­tre os pre­sos, o pró­prio Mar­can­to­nio De­la Cor­te, ex-PCdoB e ex-PCB, Pau­lo Sil­va de Je­sus, Jo­ão Sil­va Ne­to, que per­deu man­da­to de ve­re­a­dor e foi ex­pul­so da Uni­ver­si­da­de Fe­de­ral de Go­i­ás [UFG] pe­lo de­cre­to 477, Ne­so Na­tal, Tar­zan de Cas­tro, Ma­ria Cris­ti­na Us­leng­hi Riz­zi de Cas­tro, uma uru­a­gu­aia so­ci­a­lis­ta, Hu­go Brockes, Ala­or Fi­guei­re­do, Wil­mar Al­ves, Val­di Ca­mar­cio Be­zer­ra, Ho­ri­es­tes Go­mes, Al­do Aran­tes, Lu­iz Car­los Or­ro, Mau­rí­cio Za­ca­ri­ot­ti, Ma­no­el Por­fí­rio e  Cris­ti­a­no Ro­dri­gues.

    – De­ze­nas em­bar­ca­ram pa­ra o frio exí­lio.

    Além de Ju­a­rez Fer­raz da Maia, que foi pa­ra o Chi­le, Athos Mag­no Cos­ta e Sil­va fu­giu pa­ra Ha­va­na, Cu­ba, de­pois pa­ra as ter­ras de Sal­va­dor Al­len­de e, por úl­ti­mo, na gé­li­da Ale­ma­nha. Le­ni­ne Bu­e­no, Chi­le e Eu­ro­pa. Athos Pe­rei­ra da Sil­va, Su­é­cia. Dag­mar Pe­rei­ra da Sil­va, Su­é­cia. Jo­sé Du­ar­te dos San­tos in­te­grou o “gru­po dos 70”, com o gol­pe do ge­ne­ral Au­gus­to Pi­no­chet, em se­tem­bro de 1973, foi pa­ra Su­é­cia e Mo­çam­bi­que. Tar­zan de Cas­tro e Ma­ria Cris­ti­na, Chi­le e Fran­ça. De­pois da anis­tia, re­tor­na­ram.

    – A anis­tia saiu em agos­to de 1979. Pre­sos fo­ram li­ber­ta­dos, co­mo An­tô­nio Pi­nhei­ro Sal­les…

    A As­so­cia­ção dos Anis­ti­a­dos de Go­i­ás [Ani­go] já lan­çou dois do­cu­men­tá­rios, re­gis­tra ele. As pro­du­ções ci­ne­ma­to­grá­fi­cas, uma pro­du­zi­da pe­lo ce­le­bra­do Ân­ge­lo Li­ma, abor­dam os anos de chum­bo no Bra­sil e no Es­ta­do de Go­i­ás. Dois vo­lu­mes do li­vro Ar­qui­vos Re­ve­la­dos – A di­ta­du­ra mi­li­tar em Go­i­ás cir­cu­la­ram no mer­ca­do edi­to­ri­al nes­te ano de 2016.  A obra, que ob­te­ve uma par­ce­ria ins­ti­tu­ci­o­nal com a UFG e a Co­mis­são de Anis­tia do MJ, é re­sul­ta­do de um tra­ba­lho “in­can­sá­vel” de Mar­can­to­nio De­la Cor­te.

    – Pa­ra pre­ser­var a me­mó­ria da re­sis­tên­cia de­mo­crá­ti­ca!

    O gol­pe de Es­ta­do ci­vil e mi­li­tar de 1964, em Go­i­ás, con­tou, em 31 de mar­ço, com o apoio do en­tão go­ver­na­dor do Es­ta­do à épo­ca, Mau­ro Bor­ges Tei­xei­ra. Ele era fi­lho do in­ter­ven­tor no Es­ta­do da Re­vo­lu­ção de 1930, li­de­ra­da por Ge­tú­lio Var­gas, Pe­dro Lu­do­vi­co Tei­xei­ra. Em 26 de no­vem­bro do mes­mo ano, Mau­ro Bor­ges aca­bou de­pos­to. O as­sal­to ao Ti­ro de Guer­ra, em Aná­po­lis, 1964, en­trou pa­ra a his­tó­ria. O úni­co so­bre­vi­ven­te da ope­ra­ção é Ne­so Na­tal, que exi­lou-se de­pois na ex­tin­ta Uni­ão So­vi­é­ti­ca [URSS].

    – Re­vol­tas es­tu­dan­tis ocor­re­ram em Go­i­â­nia, no ano de 1968.

    Lí­der dos es­tu­dan­tes – se­cun­da­ris­tas e uni­ver­si­tá­rios – se des­ta­ca­ram na­que­le ano, 1968, que co­me­çou em 28 de mar­ço, com a mor­te, no Res­tau­ran­te Ca­la­bou­ço, Rio de Ja­nei­ro, do se­cun­da­ris­ta Ed­son Lu­ís de Li­ma Sou­to. Ju­a­rez Fer­raz da Maia, Mar­can­to­nio De­la Cor­te, Ol­ga Darc Pi­men­tel, Alan Kar­deck Pi­men­tel, Eu­ler Ivo Vi­ei­ra, Jackson Pi­res, Car­los Bran­dão, Mar­cos An­tô­nio Di­as Ba­tis­ta, Ade­mir Li­ma e Sil­va, Pau­lo Sil­va de Je­sus, Val­di Ca­mar­cio Be­zer­ra, Ste­pan Ne­cers­si­an, Ma­ria do So­cor­ro e Mi­ri­nho.

    – 1968, um ano que não ter­mi­nou, co­mo apon­ta Zu­e­nir Ven­tu­ra.

    O his­to­ri­a­dor Mar­can­to­nio De­la Cor­te lem­bra ain­da que a Re­vol­ta de Trom­bas e For­mo­so, li­de­ra­da pe­lo len­dá­rio Jo­sé Por­fí-rio, ocor­reu no Nor­te de Go­i­ás. Mais: a guer­ri­lha do Ara­gu­aia, or­ga­ni­za­da pe­lo Par­ti­do Co­mu­nis­ta do Bra­sil [PCdoB], de­sen­volveu-se no nor­te de Go­i­ás, atu­al Es­ta­do do To­can­tins, e sul do Pa­rá, além do Ma­ra­nhão. Com um sal­do de 60 mor­tos e de­sa­pa­reci­dos. A guer­ri­lha da ALN se­ria exe­cu­ta­da em Go­i­ás, pon­tua. A úl­ti­ma cé­lu­la vi­va do Mo­li­po foi li­qui­da­da em Rio Ver­de, diz.

    – O mo­vi­men­to de re­de­mo­cra­ti­za­ção ini­ciou-se em 1977 e lo­go de­pois foi cri­a­do o Co­mi­tê Go­i­a­no pe­la Anis­tia.

     

    1964 Golpe de Estado civil e militar

     

    Serviço

    Ato da Anigo

    Data: Hoje, 27 de agosto

    Horário: 12h30

    Local: Clube da Aseg

     

    O que foi a ditadura civil e militar no Brasil

    Em primeiro de abril do ano de 1964, fardados e civis derrubaram o presidente da República, João Belchior Goulart, e implantaram uma ditadura. À sombra da guerra fria, a estratégia era desagregar o bloco-histórico nacional-estatista e levar os interesses multinacionais e associados à direção do Estado.

    As tropas de Olímpio Mourão Filho desceram a serra sem um só tiro ou protesto e chegaram no dia 2. Jango teria voado com o general Assis Brasil à Fazenda Rancho Grande, em São Borja. Maria Thereza e filhos foram para o Uruguai. O deposto sai de São Borja em 4 de abril. É o que conta Jair Krischke [RS], presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos.

    – Em seu próprio avião e aterrissa em Durazno.

    O primeiro general-presidente a entrar em cena em Brasília [DF] foi Humberto Castello Branco. Ele queria um ato institucional que durasse apenas três meses. Assinou três. Queria que as cassações se limitassem a uma ou duas dezenas: cassou quinhentas pessoas e demitiu duas mil pessoas.

    O seu governo durou nada mais, nada menos do que 32 meses, 23 dos quais sob a vigência de 37 atos complementares. O marechal Humberto Castello Branco foi o cérebro do golpe de 1964. Ele era o líder da Sorbonne militar, composta, por exemplo, por Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva.

    Para o brasilianista Thomas Skidmore, o movimento civil e militar de 1964 ocorreu com dez anos de atraso e nunca atingiu o seu objetivo estratégico: desmantelar a estrutura estatal e sindical corporativista montada por Getúlio Vargas, que suicidara-se em 24 de agosto do ano de 1954, no Palácio do Catete.

    “O golpe ia ser dado em 1954, mas falhou por causa do suicídio de Getúlio Vargas”, aponta Thomas Skidmore. Não foi uma quartelada, mas uma ação de classe traçada tática e estrategicamente pelas elites orgânicas do capital transnacional, analisa o cientista político René Armand Dreiffus.

    – Ipes, Ibad e ESG consideravam o Estado como instrumento de um novo arranjo político e de um “novo modelo de acumulação”.

    História: as articulações contra João Belchior Goulart começaram antes de sua posse, em agosto de 1961. Mais: se intensificaram a partir do plebiscito que decretou a volta do presidencialismo, em janeiro de 1963, e tomaram as ruas após o anúncio das reformas de base, em março do trágico ano de 1964.

    Sucessor de Humberto Castello Branco, Arthur da Costa e Silva decreta o Ato Institucional nº 5 em 13 de dezembro de 1968. Vice, o civil Pedro Aleixo foi impedido de assumir o Palácio do Planalto. Depois de um breve exercício da Junta Militar, Emílio Garrastazu Médici chegou ao poder, em 1969.

    Em 1977, Ernesto Geisel, o “Alemão”, que havia executado a partir de 1974 a distensão lenta, gradual e segura, baixa o Pacote de Abril. João Baptista de Oliveira Figueiredo é abençoado pela caserna no ano de 1978 e o Congresso Nacional aprova a Lei da Anistia, em agosto do ano de 1979.

    Os exilados retornaram ao Brasil e os presos políticos deixam os cárceres. A ditadura acabou em 15 de março de 1985. Mas o historiador Daniel Aarão Reis diz que a ditadura termina, de fato, em 1979. Para ele, de 1979 a 1988 há, no Brasil, um período de transição. De um Estado de Direito Autoritário a um Democrático. O escritor Carlos Fico discorda dessa versão.

    A democracia no Brasil, depois dos anos de ditadura civil e militar, só se consolida e se institucionaliza, com a remoção do legado constitucional autoritário e a promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988, sob a Nova República, abençoada pelo “senhor Diretas Já”, Ulysses Guimarães. (Renato Dias)ditadura

     

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