Caiado na mira de Daniel e Eliton
Diário da Manhã
Publicado em 5 de setembro de 2018 às 02:18 | Atualizado há 4 semanasEm 2002, no auge da campanha presidencial, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderava com folga as pesquisas e se viu em meio a um verdadeiro tiroteio de seus adversários a época, principalmente o ex-governador José Serra (PSDB) e o ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PSB). Lula ignorou os ataques e continuou fazendo campanha no campo das propostas. Esta atitude rendeu ao petista o apelido de “Lulinha paz e amor”.
A disputa pelo governo do Estado este ano traz algumas semelhanças com o pleito presidencial ocorrido dezesseis anos atrás. O senador Ronaldo Caiado (DEM) mantém a dianteira no processo eleitoral, enquanto seus principais adversários ainda não lograram êxito em alcançá-lo. Sua vantagem aponta para possibilidade de vitória no primeiro turno, e numa campanha muito curta, faltando apenas 33 dias para o dia da votação (07 de outubro), aumenta o bombardeio contra o líder nas pesquisas.
A tentativa de desconstrução é um recurso comumente utilizado em várias campanhas políticas. Contra Lula foram várias, até o episódio da bolinha de papel, quando um suposto militante do PT atirou um objeto contra Serra, que o perito Ricardo Molina disse a época tratar-se de um objeto perigoso, que poderia até ter provocado a morte do candidato. Dias depois a farsa foi desmascarada e constatou-se que seguranças de Serra haviam jogado uma bolinha de papel contra o candidato para produzir a farsa que gerou factoides nos meios de comunicação.
Contra Caiado ainda não jogaram uma bolinha de papel. A principal acusação por parte da campanha de Daniel Vilela (MDB) é que Caiado sempre foi governo e por isto não é oposição de verdade. É fato que Caiado é um dos fundadores do Tempo Novo, aliança formada pelo PSDB, DEM, PTB e PPB (PP) que pôs fim aos 16 anos de governos do PMDB. Em 1998 esteve ao lado de Lúcia Vânia na caminhonete que fazia as carreatas do jovem deputado federal Marconi Perillo, que era apresentado como “o nosso candidato ao governo, moço da camisa azul ao lado do Caiado e da Lúcia”. É fato também que Caiado indicou José Eliton como candidato a vice-governador na chapa de Marconi em 2010. Mas em 2014, este mesmo Caiado apoiou a candidatura ao governo de Iris Rezende (PMDB), sendo na ocasião candidato a senador. Portanto, desde 2014, Caiado está na oposição, e em 2018, é candidato de oposição.
O PMDB de Iris Rezende e de Maguito Vilela venceu várias eleições rachando governos e também partidos de oposição. Em 1982, Iris dividiu ao meio a Arena/PDS, trazendo para a sua chapa o ex-governador Irapuan Costa Júnior, a ex-primeira-dama Lúcia Vânia e seu grupo político, além dos ex-prefeitos de Morrinhos Helenês Cândido e Naphtali Alves e um jovem e promissor vereador de Jataí, Maguito Vilela. Em 1994, a campanha de Maguito Vilela ao governo do Estado contou com a habilidade de Iris para rachar parte do PDC e trazer o apoio de várias lideranças como o deputado Jamil Miguel, o suplente Luiz Bittencourt, que havia feito campanha inovadora em 1992, na disputa pela Prefeitura de Goiânia.
ALIANÇAS
Mais do que as alianças políticas, Iris e Maguito venceram as eleições em 1982, 1990 e 1994 em função dos projetos que apresentaram. Iris se notabilizou pela construção de rodovias, redes de transmissão de energia e pela criação do Fomentar, programa que possibilitou a atração de centenas de empresas para Goiás. Maguito foi eleito com um ousado programa de assistência social, quando prometeu combater a fome que penalizava milhares de famílias em Goiás. No governo, Maguito garantiu que as famílias mais necessitadas recebessem uma cesta básica, pão e leite para as crianças e ainda um botijão de gás.
As pesquisas publicadas nesta campanha pelo Diário da Manhã mostram que a maioria dos não votantes – ou seja, aqueles eleitores que declaram-se indecisos, ou que podem anular ou votar branco –, estão nesta condição de não votantes porque ainda não sensibilizados pelas propostas dos candidatos.
Tanto os números do instituto Grupom quanto os levantamentos do instituto Diagnóstico, ou mesmo do Ibope, revelam que a população está desacreditada das trucagens e do excesso de marketing das campanhas. Num país com 26 milhões de desempregados e 38 milhões no subemprego ou vivendo de bicos, o que o povo quer é ouvir as propostas dos candidatos.
Um fato que explica muito bem esta situação é o fenômeno chamado Luiz Inácio Lula da Silva. Preso injustamente em Curitiba(PR), num processo onde sobra imparcialidade dos juízes e faltam provas contra o petista, Lula lidera todas as pesquisas eleitorais. Ontem o Diário da Manhã publicou estudo feito pelo Instituto FSB a pedido do banco BGT Pactual, onde Lula subiu de 35% para 37% nas intenções de voto mesmo após a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de impedir a sua candidatura. O que leva as pessoas a votarem em Lula é o reconhecimento de que no seu período de governo havia mais emprego e mais oportunidades para todos. Em Goiás, a representante do PT na disputa pelo governo do Estado, Kátia Maria, tem pautado a sua campanha justamente na divulgação de propostas que remetem aos êxitos alcançados nos governos do ex-presidente Lula.
ATAQUES
Provavelmente não será com a amplificação dos ataques contra Caiado que José Eliton e Daniel Vilela lograrão êxito em derrotar o candidato do DEM. No caso do candidato governista, há uma sintomática sensação de desgaste no material chamado Tempo Novo após 20 anos de poder. É impossível para José Eliton reverter isso? Não.
Exemplos de Estados como São Paulo, onde os tucanos governam há 24 anos, mostram que é possível a manutenção de um partido por longo período no poder. O que talvez esteja faltando na campanha tucana em Goiás é admitir erros e apontar caminhos para avançar. Provavelmente o eleitor de Goiânia, por exemplo, queira ouvir de José Eliton um pedido de desculpas pela Barragem do João Leite, que está inaugurada desde 2010 não estar ainda–passados oito anos- fornecendo água para Capital e para Região Metropolitana. Os moradores dos bairros da região Norte de Goiânia também querem ouvir um pedido de desculpas pela fedentina que toma conta do ar no período da seca, apesar de ter sido dito que o Rio Meia Ponte estava despoluído após a construção da Estação de Tratamento de Goiânia, inaugurada com pompas e com direito a escultura do artista plástico Siron Franco. Com o pedido de desculpas, o candidato do PSDB terá oportunidade de apresentar os projetos para resolver esta e outras situações.
PROPOSTAS
Caiado tem apresentado propostas e tem feito, ao seu modo, a campanha paz e amor, que Lula (que nem de longe é seu aliado) fez em 2002. A professora Kátia Maria, na simplicidade de sua campanha, faz o mesmo, aproveitando seu tempo de televisão e a participação em debates e no contato ao público para divulgar suas propostas. Se as campanhas selvagens de desgaste e xingamento fizessem efeito, José Serra e não Lula, Aécio Neves e não Dilma, teriam sido eleitos presidentes nas eleições de 2002 e de 2014. É claro que há espaços para anticandidatos, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que promete resolver tudo na bala e até prometeu metralhar adversários petistas durante discurso em Rio Branco no Acre. Mas uma leitura mais acurada nas pesquisas mostra que Bolsonaro tem forte rejeição entre os jovens e principalmente entre as mulheres, e o resultado disso é que Bolsonaro é derrotado no segundo turno em todas as pesquisas feitas pelo Ibope, Datafolha e Vox Populi.
Num povo descrente com a política, amargando desemprego nas alturas, gasolina a R$ 5,00, dificuldade em encontrar remédios nos postos de saúde e sofrendo os impactos do aumento da violência, certamente não será a violência nos programas de televisão que irá melhorar a performance dos candidatos.
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