Demóstenes quer a encampação da Enel
Diário da Manhã
Publicado em 25 de setembro de 2018 às 00:19 | Atualizado há 3 semanasO ex-senador e atualmente candidato a deputado federal pelo PTB, Demóstenes Torres quer a encampação da Enel, ex-Celg. Diz o candidato que a Enel não vem cumprindo suas obrigações contratuais. Além disso, o serviço de fornecimento de energia elétrica piorou em muitos lugares. “Estamos regredindo aos tempos em que a energia de Goiânia era fornecida pela pequena represa do Jaó. Eu estava em Formoso, na semana passada, e uma dona de casa me dizia que a empresa chega a cortar a luz até 15 vezes por dia. Tenho recebido dezenas de reclamações desse tipo por onde eu passo neste nosso Estado de Goiás”, denuncia Demóstenes. “Uma senhora, prossegue Demóstenes, “teve sua geladeira queimada duas vezes, e também teve queimada a sua máquina de lavar, em razão das bruscas oscilações da voltagem na rede”.
É claro que a empresa poderia ser condenada a indenizar por esses danos, reconhece Demóstenes. “Mas é uma briga de calango contra elefante”, avalia. O poderio econômico da empresa e a demora do julgamento desestimulam as pessoas a demandarem contra a Enel”, observa Demóstenes.
Segundo o candidato, que, como senador, havia acompanhado de perto as tratativas do governo do Estado com o governo federal para salvar a Celg, e por isso tem conhecimento de tudo que se refere à privatização da estatal goiana, o contrato de venda obriga a Enel a investir até 3 bilhões em obras de manutenção e expansão das linhas, e aperfeiçoamento da geração de energia. “O consumidor goiano vem sendo lesado pela Enell em virtude desta privatização”, afirma Demóstenes.
A venda da Celg para a Enel foi o último capítulo de um drama que começou no segundo lustro da década de 90, do século passado. O governo federal, chefiado por Fernando Henrique Cardoso, vinha pressionando o então governador Maguito Vilela a privatizar a Celg. Foi aquela uma época em que o governo federal iniciou um vasto bota-fora das estatais brasileiras. A chamada “privataria tucana”.
CACHOEIRA DOURADA
Maguito resistiu o quanto pôde, mas precisava rolar as dívidas do Estado e, assim, cedeu em parte às exigências do governo federal: vendeu a usina de Cachoeira Dourada, a principal geradora de energia de Goiás. Reteve, porém, algumas usinas pequenas e a poderosa rede de distribuição. Para tornar mais atrativa a venda de Cachoeira Dourada, o governo fez a Celg se comprometer a comprar energia do adquirente preço superior ao de mercado.
Foram mais de cinco anos para obter a anulação judicial desta cláusula. Mas enquanto ela esteve em vigência, arruinoudemodoirreversível a saúde financeira da empresa. Para se manter, a Celg começou a não repassarparaaFazendaPúblicaoICMS cobrado dos consumidores, acumulando uma gigantesca dívida fiscal.
Não podendo quitar a dívida fiscal – e, com isso, por vias indiretas lesando o Tesouro da União, que tem dívidas a receber de Goiás por dedução da receita líquida – a Estatal goiana foi proibida pela Anel de majorar tarifas. E isto deteriorou ainda mais as finanças da empresa.
A solução veio no final do ano de 2010, por decisão do então presidente Lula, que deu ordem expressa à CEF para emprestar dinheiro à Celg. A Caixa não emprestava porque a estatal goiana não tinha cadastro de bom pagador. O acordo foi penosamente costurado pelo então governador Alcides Rodrigues e o governo Lula. Para usar viabilização, teve papel de destaque um assessor presidencial que ajudou a convencer Lula a ajudar o Estado: o goiano Olavo Noleto. Por outro lado, o então senador Demóstenes Torres matinha conversas em várias áreas do governo federal buscando angariar apoio à causa.
ALCIDES E O ACORDO
No início do segundo semetre de 2010 o acordo foi fechado em Goiânia. A CEF emprestaria mais de 500 milhões de reais à Celg para a quitação dos impostos, com prazo de amortização a perder de vista e taxas de juros camaradas. A Eletrobrás iria adquirir 45% das ações da Celg ao custo de 12 bilhões de reais. Com suas finanças saneadas, a Celg receberia, finalmente, permissão da CVM para lançar ações na Bovespa.
Na época, o governador Alcides Rodrigues, temendo exploração eleitoreira dos macronistas, sugeriu que a primeira parcela do empréstimo fosse liberada após as eleições do segundo turno. A última seria liberada no ano seguinte. Estava tudo acertado. Mas aconteceu o inesperado.
O candidato a governador pelo PSDB, o então senador Marconi Perillo colocou-se contra o acordo. Oficiou à CEF dizendo que, se eleito, seu governo não honraria o contrato de empréstimo. Marconi temia que, com estas operações, o Estado perdesse capacidade de endividamento, e o seu governo poderia ficar inviabilizado.
Foi um temor injustificado. A ação de Marconi sabotando o acordo costurado por Alcides levou tudo de volta à estaca zero. Às vésperas de deixar o governo, Alcides convocou uma entrevista coletiva para responsabilizar Marconi pelo fracasso da negociação, e lamentar não poder fazer mais nada para salvar a empresa.
No primeiro ano de seu governo, Marconi tentou ressuscitar o acordo que ele havia sabotado. Mas o governo de Dilma respondeu que aquele acordo já não estava de pé.
Daí para a frente, a Celg veio de fracasso em fracasso à situação de falência. A Enell pagou pouco mais de 2 bilhões de reais por ela. O Estado recebeu cerva de um bilhão, já que o resto seria empregado no pagamento de dívidas da empresa.
Tanto no caso de Cachoeira Dourada – vendida por quase 700 milhões – como no caso de agora, o produto da venda foi dissipado em pequenas obras eleitoreiras. O patrimônio que consumiu bilhões de reais para ser construído ao longo de décadas, virou fumaça. E, em seu lugar, surge uma empresa italiana que não vem cumprindo as obrigações assumida em contrato. “Eleito deputado, vou propor uma projeto de lei, para valer par todo o país, estabelecendo que, quando faltar energia, a empresa seja punida com um desconto equivalente ao gasto médio diário de consumo de cada cliente. Também vamos proibir taxa de religação. Ser a empresa não cobra pra ligar, não tem porque cobrar para religar. Em caso de atraso de pagamento, o corte só poderá ser efetuado após três meses consecutivos de inadimplemento”, afirma.
Demóstenes afirma que “a Enel traiu Goiás”. Ele diz que, decorrido o prazo contratual, caso a empresa não tenha efetuado, na totalidade, os investimentos que se obrigou a fazer, ele promoverá, pelos meios que estiver ao seu alcance, a recisão do contrato e a retomada da empresa. “Até agora, a Enel não realizou investimento nenhum e, pelo andar da carruajem, o meu palpite é que ela não fará. Aí, vamos ter que retomar a empresa, e a Enel voltará a ser Celg”
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