Duelo das ideias

O debate sobre os rumos do País foi adiado nestas elei­ções. Os pensamentos pro­gressista e conservador sobre a eco­nomia, educação, saúde, liberdade religiosa, questão de gênero e orga­nização do Estado foram substituí­dos por uma campanha marcada por notícias falsas, as “fake news”, onde houve, segundo denúncia feita pelo jornal Folha de S.Paulo, abuso de po­der econômico por parte de empre­sas que gastaram milhões em dis­paros no whatsapp para criticar os candidatos de esquerda e favorecer a candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL).

Embora tenha sido adiado na campanha presidencial, concep­ções diferentes de Estado estão pre­sentes na vida política. Em Goiás nem todos políticos têm uma po­sição definida sobre o tema, evitan­do se posicionar como de esquerda ou de direita. Mas há aqueles que ao longo da carreira não tiveram dúvida em se apresentar como tal. O gover­nador José Eliton (PSDB), por exem­plo, declarou em entrevista recente que se considera um político de di­reita, com visão social-liberal, onde o Estado deve ser reduzido, mas sem se descuidar da ação social.

DIREITA

O governador eleito Ronaldo Caiado (DEM) também nunca es­condeu o seu posicionamento ideo­lógico. Um dos fundadores da ban­cada ruralista no Congresso Nacional sempre pontuou pela defesa do direi­to de propriedade e do agronegócio e contra movimentos que reivindicam a reforma agrária, como o MST (Mo­vimento dos Sem Terra) e a reforma urbana MTST (Movimento dos Sem Teto). Seu papel na bancada rura­lista deve ser ocupado pelo recém­-eleito deputado federal José Mário Schredner (DEM), que foi presiden­te da CNA (Confederação Nacional da Agricultura) e da Faeg (Federação da Agricultura do Estado de Goiás).

Decano na Câmara Federal, Ro­berto Balestra acumulou oito man­datosnoParlamento. Commilitância no cooperativismo, sendo fundador de cooperativas de leite, de plantio de frutas, ele foi um dos pioneiros na indústria sucroalcooleira no Estado, com a instalação de uma usina de ál­cool em Inhumas, e um dos princi­pais membros da bancada ruralista. Com passagens pela Arena, PDS, foi um dos fundadores do PDC, partido que viria a formar o atual PP.

Cotado como um dos favoritos para assumir a presidência da As­sembleia Legislativa, o deputado estadual Alvaro Guimarães (DEM) também é um dos expoentes do pen­samento conservador no Estado. As­sim como Balestra, teve passagem pelo PDS, foi também um dos pri­meiros na criação do PDC e apoiou em 1989 a campanha de Ronaldo Caiado à presidência da República, tendo sido o primeiro deputado a di­vergir da base situacionista, deixando o PR e se filiado ao DEM para apoiar a candidatura de Caiado a governador.

Ex-prefeito de Anápolis, ex-gover­nador, ex-senador e ex-deputado fe­deral, o secretário de Segurança Pú­blica Irapuan Costa Júnior sempre foi um crítico do chamado socialis­mo soviético, e integrou em 1964 o apoio ao movimento civil-militar que depôs o presidente João Goulart (PTB). Durante seu período de gover­no, Irapuan lançou o Daia (Distrito Agroindustrial de Anápolis), dentro dos marcos do planejamento estatal que também marcou os governos no período militar (1964-1985).

O deputado estadual Francis­co Valle Júnior (PSD) foi eleito de­putado federal dentro do discurso conservador da Renovação Caris­mática, ala da Igreja Católica que defende a evangelização e é con­trária à teologia da libertação, da chamada igreja progressista. No Congresso Nacional deve integrar a chamada Bancada da Bíblia.

O delegado Waldir Soares (PSL), pela segunda vez o mais vota­do para a Câmara Federal, se au­todefine como político de direita. Sua marca é a segurança pública, mas também abraça outras causas como a campanha contra o aborto, redução da maioridade penal e a le­galização do uso recreativo da ma­conha. Um dos principais apoia­dores da campanha do capitão Jair Bolsonaro à presidência, que ele define como “um cara fantástico”.

Outro delegado, que também foi reeleito para mais um mandato na Câmara Federal, João Campos (PRB) senotabilizouporprojetospolêmicos como o “cura gay” e o que criminaliza o aborto em qualquer circunstância como estupro, bebê anencéfalo ou risco de morte da mãe. Campos é um dos representantes da Igreja Univer­sal na Bancada da Bíblia, cuja atua­ção sofre críticas por não reconhecer o caráter laico do Estado brasileiro.

Recém-eleito deputado estadual, o vereador goianiense Eduardo do Prado (PV) faz parte da nova safra de políticos conservadores. Ele, que é delegado de polícia, tem como prin­cipal foco a segurança e o combate à corrupção. Na sua passagem pela Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), foi um dos recordistas em apreensão de drogas enquantodelegadoadjuntoeumdos responsáveis pela prisão do serial kil­ler Tiago Gomes Henrique da Rocha.

ESQUERDA

Em Goiás o campo progressis­ta tem como um dos ícones o ex­-prefeito de Goiânia Pedro Wilson Guimarães. Um dos fundadores e presidente do Comitê pela Anistia, li­derou este movimento em Goiás nos anos 1970. Católico, fez parte da ala da Igreja que apoiava os movimen­tos sociais como a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e CEB´s (Comis­são Eclesial de Base), que foram uma das principais bases para a criação do Partido dos Trabalhadores, ao lado do movimento sindical e dos políticos anistiados pela ditadura.

Herdeira do legado do pai, o ex­-prefeito Darci Accorsi (1993-1996), a delegada Adriana Accorsi foi ree­leita deputada estadual, figurando em quinto lugar na votação geral. Presidente municipal do PT, é cota­da para ser a candidata do partido na sucessão municipal em 2020. Na Alego (Assembleia Legislativa do Es­tado de Goiás), tem como principais bandeiras a luta pelos direitos hu­manos, contra o feminicídio e con­tra o extermínio da juventude negra nas periferias das grandes cidades, além da defesa de melhores con­dições para atuação dos profissio­nais de segurança pública no Estado.

Exercendo o quinto mandato consecutivo de deputado federal, Rubens Otoni é um dos fundado­res do PT em Goiás, tendo sido pre­sidente do partido e sua principal liderança no Estado. Nesta legis­latura votou contra a reforma tra­balhista e da previdência e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na Câmara Federal atua em parceria com movimentos so­ciais na pauta de garantia e amplia­ção dos direitos individuais e pela participação do Estado como indu­tor do desenvolvimento nacional.

Uma das fundadoras do PCdoB em Goiás, a deputada estadual Isaura Lemos está no quinto man­dato na Alego. Juntamente com o esposo, o ex-vereador Euler Ivo, fundo o Movimento de Luta pela Casa Própria, responsável pelo as­sentamento de dezenas de famí­lias em Goiânia e na Região Metro­politana. É autora de projetos para facilitar o acesso à casa própria e também de valorização aos assen­tamentos rurais, direito à liberdade religiosa e de organização sindical.

Ex-prefeito de Anápolis por dois mandatos e vereador com maior votação proporcional no País nas eleições de 2016, o deputado esta­dual eleito Antônio Roberto Gomi­de é um dos principais nomes do pensamento progressista em Goiás. Sua passagem pela prefeitura da ci­dade mais industrializada do Esta­do conquistou simpatias da ampla maioria da população, que o consa­grou como o deputado mais votado do município, o que provavelmen­te o qualifica como um dos princi­pais nomes na sucessão municipal.

Egresso do movimento estudantil e com passagem no movimento sin­dical, quando foi um dos criadores da cooperativa de transporte alterna­tivo na Capital, o vereador goianien­se Elias Vaz foi um dos fundadores do PSTU e do PSol em Goiás. Após cin­co mandatos consecutivos na Câ­mara de Goiânia, foi eleito deputado federal pelo PSB. Sua atuação sem­pre foi marcada pelo alinhamento às entidades classistas do servidor público e movimentos comunitá­rios. Passa a ser a principal referên­cia do partido em Goiás com a não reeleição da presidente do partido, a senadora Lúcia Vânia.

Reeleito deputado estadual pelo PDT, Karlos Cabral é servi­dor público do Tribunal de Justi­ça do Estado de Goiás. Natural de Rio Verde, Karlos Cabral iniciou sua militância política nas comu­nidades de base da Igreja Católica, atuando principalmente na Pasto­ral da Juventude. Na Alego repre­senta Rio Verde e o Sudoeste goiano, é defensor dos servidores públi­cos e dos movimentos populares.

A vereadora Tatiana Lemos (PCdoB) é uma das poucas vozes socialistas na Câmara de Goiânia. No seu terceiro mandato, ela tem bancado a luta contra o precon­ceito e intolerância à população LGBT, contra o racismo, a violên­cia contra a mulher e contra a in­tolerância religiosa.

Professor de História em vários colégios da Capital, Reinaldo Panta­leão foi um dos fundadores do PT em Goiás e também do PSol. Foi candi­dato a prefeito pelo partido e nestas eleições disputou mandato de de­putado federal. É defensor das liber­dades individuais e coletivas, contra intolerância política, religiosa ou de gênero e um crítico à concentração de renda, de terra e de imóveis pelo chamado 1% dos mais ricos do País.

O Partido Comunista Brasilei­ro teve como últimos representan­tes na Câmara de Goiânia o finado radialista Paulo Villar e a professo­ra Marta Jane. A legenda se reestru­tura no Estado através do atual se­cretário de Organização do partido em Goiás, o professor Paulo Winí­cius “Maskote” . Ele ressalta que o PCB atua como “Oposição de Es­querda” tanto à direita representa­da pelo PSL, DEM, PSDB e outros, quanto ao PT, PCdoB e outros.