Fake News domina início de campanha
Diário da Manhã
Publicado em 6 de junho de 2018 às 01:48 | Atualizado há 4 semanasAs eleições de 2018 começaram no esgoto. É enorme a produção de boatos, informações truncadas e as chamadas fake news no início da disputa pelo poder que está concentrado no Palácio das Esmeraldas. Até agora o grupo político mais afetado pela disseminação é o que apoia o senador Ronaldo Caiado (DEM). Motivo: lidera com grande margem as pesquisas eleitorais.
Nos últimos dias, duas mensagens que circularam nas redes sociais visaram nitidamente a afetar a reputação do pré-candidato ao Governo de Goiás.
Em uma delas, tenta-se utilizar uma manchete de O Popular para incriminar Ronaldo Caiado. O texto é vago, impreciso e visa aproximar o senador das empreiteiras envolvidas na Operação Lava jato. A assessoria do pré-candidato enviou ao DM a lista oficial de quem está envolvido nas investigações e não figura Caiado. O impresso realizou consulta no Supremo Tribunal Federal (STF) e recebeu a mesma informação.
Não bastasse, dias depois um novo fake circulou nas redes sociais e grupos de WhatsApp: a escritora Cora Coralina insinuaria que os “Caiados” são acostumados a estalar o “chicote no lombo do povo”. O fake diz que a frase foi extraída em um trecho da obra Estórias da Casa Velha da Ponte, de 1985. O post traz outra falsificação da realidade: Cora morreu em 1985 e não em 1995, como está no fake.
CORA CORALINA
Marlene Vellasco, responsável pela casa de Cora, que cuida do acervo da poetisa goiana, disse na internet que o teor é “completamente falso”. “Aliás quando o professor Martins, amigo de Cora, sofreu um acidente e foi levado para Goiânia, foi o médico Ronaldo Caiado quem o atendeu no seu hospital a pedido de Brasilete e da própria Cora”.
De acordo com a mestre em comunicação pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisadora de crimes contra a honra produzidos na internet Jackeline Osório, a grande dificuldade é a Polícia Civil conseguir localizar a origem do “fake” através do IP – ou seja, é mais fácil punir quem compartilha e não o autor do delito.
Conforme Jackeline, é preciso também entender que não existe tipificação sobre “fake news”. Sem um crime específico para tratar deste formato resta ao lesado entrar com uma ação por danos morais e crimes contra a honra. “Neste caso é eficaz, já que existem tipos legais e possibilidades de avaliação da culpabilidade”.
Jackeline diz que os estudos acadêmicos ainda não chegaram a um consenso do que seja fake news para sugerir uma tipificação ao mesmo tempo “abstrata” e “fechada”, já que a definição varia conforme o país e autor, mas é inegável o resultado do delito. “Quando se discute o crime, o que importa na maioria das vezes é o resultado. Se ele é gravoso e fere a reputação, honra subjetiva ou objetiva de pessoas ou familiares, é possível acionar desde o autor até mesmo quem compartilha a informação falsa nos artigos 138, 139 e 140 do Código Penal”, diz Jackeline.
A pesquisadora diz que em uma campanha costumam circular boatos, fofocas e agora as notícias fakes. “A notícia fake tem aparência de verdade. Traz o que é mais importante na caracterização da notícia: a aparência de verdade. É tanto uma fraude moral quanto um crime”, diz a pesquisadora.
Outra informação capciosa que circulou recentemente nas redes sociais diz respeito a uma propaganda de Daniel Vilela (MDB) em que ele aparece ao lado de Michel Temer. A origem é que não é verídica. A peça publicitária (um card para divulgação nas redes sociais) traz Daniel ao lado de Temer e uma frase em que o deputado federal diz ter vontade de fazer em Goiás o que Temer faz com o Brasil.
Ambos são, de fato, do mesmo partido, mas o post surge no momento mais delicado do mandato de Temer, em que ele enfrenta a greve dos caminhoneiros. Neste caso, Daniel não teria nenhum interesse político em aparecer ao lado do aliado. A montagem sutil, neste caso, diz Jackeline, caracteriza “uso indevido de imagem e infração penal contra a honra de Daniel”.
O Diário da Manhã vai realizar daqui até o final das eleições ampla campanha contra o uso das “fake news” na campanha eleitoral. O leitor poderá encaminhar sugestões de investigações, denúncias e material para checagem junto à polícia, Ministério Público e Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mestre em comunicação e pesquisadora Jackeline Osório
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