Morte na omissão de socorro

Vereador Paulo Borges se envolve em acidente com motociclista, deixa o local e jovem morre

Um acidente ocorrido na manhã de sábado revelou mais do que uma simples fatalidade envolvendo um carro e uma moto em que o motociclista morreu com a violência do choque e um passageiro ficou gravemente ferido. Outro ocupante do carro é o vereador Paulo Borges (PR) e o veículo é da Prefeitura de Goiânia e estava à disposição do gerente do Sine (Serviço Nacional de Empregos), Marcos Roberto Barbosa.

O caso aconteceu na manhã de sábado, na Avenida Americano do Brasil, em frente ao Parque Areião, na porta do prédio onde mora o vereador Paulo Borges. Ele estava chegando após uma atividade política e tinha também como acompanhante o jornalista Tiago Alves, seu assessor. O VW Voyage dirigido por Marcos Roberto aparentemente fez uma conversão indevida para entrar na garagem do prédio e a motocicleta pilotada por Bruno Alexandre Nicolau, de 20 anos, bateu com força do lado do motorista. Bruno foi prensado contra uma caçamba e morreu na hora. Marcos Roberto teve fratura exposta e ficou no veículo aguardando socorro.

Os bombeiros que atenderam a ocorrência anotaram no boletim que não havia nenhum dos outros ocupantes do veículo quando chegaram, o que levantou a suspeita de que tenha havido omissão de socorro, principalmente porque o corpo do motociclista estava inerte no chão quando os socorristas chegaram ao local.

O carro era da prefeitura e estava à disposição de Marcos Roberto, gerente do Sine e subordinado à Secretaria Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação (Setec), indicação do vereador Paulo Borges. Na manhã de ontem auxiliares da Prefeitura indagavam onde estaria um carro oficial na manhã de sábado, constando que não há expediente nesse dia nem atividade que justifique a circulação do veículo.

Paulo Borges foi intimado a prestar depoimento na Delegacia Especializada em Crimes de Trânsito (Dict). Ele e seu assessor Tiago Alves compareceram e prestaram esclarecimentos para a escrivã Daniela Ribeiro sobre o ocorrido.

Negativa

Segundo Paulo Borges contou à Polícia ele teria aguardado alguns momentos prestando assistência a Marcos Roberto Barbosa e teria subido para seu apartamento por ser hipertenso e ter se sentido mal após o episódio.

A Setec informou através de nota oficial que irá instaurar sindicância para apurar todo o ocorrido com o funcionário e com o veículo oficial da Prefeitura “para apurar todos os fatos relacionados ao acidente”. Paulo Borges foi preso em fevereiro de 2013 durante uma investigação conduzida pelo Ministério Público que culminou com a “Operação Jeitinho” e apurou denúncias de corrupção na Agência Municipal de Meio Ambiente. Além dele foram cumpridos mandados de condução coercitiva contra o vereador Wellington Peixoto e servidores do órgão.

Após isso Paulo Borges foi denunciado pelo Ministério Público e condenado pela Justiça por atos de corrupção quando teria recebido indevidamente sem trabalhar e acumulado as funções de vereador e servidor municipal. Em julgamento no Tribunal de Justiça ele teve a condenação confirmada por ato de improbidade administrativa e seus direitos políticos foram cassados por oito anos, sendo também proibido de contratar com o poder público por 10 anos.

“É que, como exaustivamente demonstrado, restou comprovada, pelo conjunto probatório, a prática dolosa da conduta de atentado aos princípios da Administração Pública, por parte apelante Paulo Sérgio Póvoa Borges, tipificada no artigo 9º inciso I, da Lei 8.429/92, pelo que deve ser responsabilizado”, confirmou o desembargador Gerson Santana Cintra. Por ser julgamento proferido por órgão colegiado, no caso o Tribunal de Justiça, Paulo Borges ficou incurso na Lei da Ficha Limpa e não poderá ser candidato à reeleição nesse ano.