Retrospectiva: o ano que abalou a política
Welliton Carlos da Silva
Publicado em 31 de dezembro de 2016 às 21:25 | Atualizado há 3 semanasBrasília, 6 de setembro de 2016. Dilma Rousseff, agora ex-presidente do Brasil, embarca para Porto Alegre, após sofrer intenso processo no Congresso Nacional que culminou com o rompimento em definitivo de seu mandato. Ela abraça o ex-assessor pessoal, Jorge Messias, o “Bessias”, e sai. Fica a história de um abraço apertado em todo o país.
Em Curitiba, em 26 de outubro, um juiz federal, com formação no Paraná e mestrado em Harvard, Sérgio Moro, escuta de um dos homens mais importantes do Brasil durante uma década: “Deixa eu em liberdade, doutor, deixa”. Era José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil de Lula, e que – se não fosse o mensalão – estaria no lugar onde esteve Dilma por longos anos, ou seja, na Presidência da República. Era uma audiência de Dirceu com o juiz que até extinguiu a punição do mensalão, mas que voltou a condená-lo a mais 23 anos pelo Petrolão.
No Rio de Janeiro, em 16 de novembro, outro poderoso, o ex-governador Sérgio Cabral, tem a cabeça raspada, como um presidiário qualquer. Sua mulher cumpriu o mesmo ritual dos bandidos.
No Brasil inteiro, neste mesmo ano, o mundo viu o PT – um dos maiores fenômenos políticos da história brasileira – desaparecer das urnas.
A onda da mudança pegou muitos desprevenidos. Lula tornou-se réu em cinco ações penais.
Em Goiás, lideranças do PSDB e políticos ligados à gestão pública, foram presos, com áudio em que revelam o desespero de um grupo de pessoas próximas ao poder tendo em apagar provas e impedir que a denúncia chegasse às altas patentes.
No mesmo estado, em 28 de setembro, em Itumbiara, um homem segue a festiva carreata de políticos. De repente, ele para o carro, sai e começa a atirar. Mata duas pessoas, dentre elas o ex-prefeito Zé Gomes. No carro, estavam políticos como o senador Wilder Morais e o vice-governador José Eliton – que é atingido gravemente. O governador de Goiás Marconi Perillo está no exterior. Por dias, o presidente da Assembleia Legislativa, Hélio de Sousa, assume o comando de um Estado atormentado. A agressão torna-se manchete no mundo, em um exemplo de como anda a disputa política em Goiás e no Brasil.
Nos Estados Unidos, para completar a convergência de todos os astros, planetas e seja lá mais o que for no mapa astral político, um histriônico participante de reality shows que já nasceu bilionário ganha as eleições presidenciais contra tudo e contra todos.
MÍDIA
Cai a mídia tradicional aos seus pés, bem como a manjada dicotomia entre republicanos e democratas. Donald Trump vence uma disputa selada pelo conservadorismo, cujo exemplo maior é a promessa de que construirá um muro para separar México dos Estados Unidos e assim impedir a entrada de mexicanos ilegais no país.
Eis 2016 na política. Neste século, foi o ano mais polêmico, movimentado e inesperado nos conflitos de poder: seja nas disputas municipais, nos estados, Brasil ou mesmo no mundo. Quem pegar este jornal que você lê neste momento nas próximas décadas vai custar acreditar que tudo isso aconteceu de fato.
E a inexplicável catarse contou sempre com um convidado ilustre: o povo. Ele foi para as ruas, bateu panelas, ocupou escolas no Brasil, protestou contra privatizações, Organizações Sociais (OS’s), contra Lula, contra Michel Temer, enfrentou a Polícia Militar e defendeu suas causas.
Há tempos ele não gritava contra as mazelas e as artimanhas dos políticos. De repente, acordados, poucos se tornaram milhões. Através das redes sociais, cada um assumiu a figura de um emissor em potencial. Os gritos foram de “não temos tempo a perder” ou “Que coincidência, não tem polícia, não tem violência” ou “Olímpiadas eu abro mão, quero dinheiro pra saúde e educação”.
Esse povo perdeu a fé no Estado e agiu como os moradores de Rubiataba, que liderados pela magistrada Roberta Wolpp Gonçalves, neste ano, resolveu fazer com as próprias mãos um presídio, já que os residentes não poderiam mais esperar as promessas de sempre. Em Catalão, no sudeste de Goiás, por exemplo, os moradores resolveram concretar as ruas.
O DM faz um levantamento agora dos principais acontecimentos políticos de Goiás e do Brasil. Uma página é pouco para mostrar o descompasso dos políticos com os eleitores (verdadeiros donos do poder) e como – aos poucos – a sociedade civil, movimentos sociais, militantes de redes sociais e a própria polícia e o Judiciário começaram a mudar o país.
O que abalou a política de Goiás, Brasil e mundo
Impeachment de Dilma
31/08/2016
A Presidente Dilma é afastada do mandato por 61 votos favoráveis e 20 contrários em uma votação histórica no Senado que confirmou a deliberação da Câmara dos Deputados. Na mesma decisão, uma interpretação atípica da lei: os senadores rejeitaram pena de inabilitação de Dilma para funções públicas. O fato marcará o ano político com confrontos entre defensores da presidente e aliados de Michel Temer, vice-presidente que assumiu o cargo.
Prisão de lideranças do PSDB de Goiás
24 de agosto de 2016
A Polícia Federal deflagra a Operação ” Decantação” e prende aliados do governador de Goiás, Marconi Perillo. Afreni Gonçalves, presidente do PSDB, e o diretor-presidente da Saneago, José Taveira Rocha, que já foi secretário de Fazenda do Governo de Goiás, são presos. Fraude de R$ 5 milhões teria sido usada em campanha eleitoral, conforme um procurador do Ministério Público Federal (MPF). Os envolvidos – uma organização de 35 pessoas, segundo o MPF – serão julgados por peculato, corrupção passiva, corrupção ativa, organização criminosa, lavagem de dinheiro e fraudes em processos licitatórios. Os desdobramentos são aguardados para 2017.
26 de junho de 2016
Visita de Michel Temer aos goianos
Em uma ação surpreendente, já que estava pouco acostumado ao poder de presidente da República, Michel Temer visitou Goiás para celebrar o aniversário do senador goiano Wilder Morais. Ao lado do presidente, oito senadores, 170 prefeitos de Goiás e o governador Marconi Perillo participaram da festa, na fazenda do parlamentar. No evento, Temer disse que a união do Brasil começaria por Goiás: “Wilder tem uma história de superação e com este prestígio começa um movimento no Brasil”. Era seu primeiro discurso de presidente de fato. A visita tomou conta do noticiário nacional e Temer convocou o senador goiano para relatar a primeira Medida Provisória de seu governo, que trata da recuperação da economia.
Atentado em Itumbiara
28 de setembro de 2016
Era uma carreata normal. O vice-governador José Eliton, senador Wilder Morais, deputados federais e estaduais integravam o grupo no veículo que levava Zé Gomes, ex-prefeito de Itumbiara. De repente, um funcionário da prefeitura, Gilberto Ferreira do Amaral, para seu carro e atira em quatro pessoas durante a carreata. Ele acaba morto. No ataque, Zé Gomes e um PM também foram mortos. José Eliton e um advogado são feridos. O atentado abala a política goiana em plena temporada eleitoral.
Lula torna-se réu em cinco ações penais
19 de dezembro de 2016
Lula tornou-se o político brasileiro que mais acumula processos penais: cinco ao todo. Os procuradores da Operação Lava Jato apresentaram todas as denúncias em 2016 a partir de várias investigações realizadas em âmbitos judiciais diferentes. Apesar de escapar do processo do Mensalão, o ex-presidente acabou se envolvendo em uma rede de denúncias, já que delações e documentos passaram a aumentar a suspeita de que o ex-presidente comandava uma ampla estrutura de corrupção, que incluía venda de Medidas Provisórias, corrupção nas estatais e recebimento de propinas. A imagem negativa do ex-presidente tem repercussão nas urnas, quando o PT saiu menor do que quando iniciou na política, em 1982.
Delações da Odebrecht
21 de dezembro de 2016
O início das delações em conjunto da Odebrecht colocou em alarme inúmeros políticos do Brasil – inclusive de Goiás. A divulgação da delação de Claudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, abalou Brasília. Ele escancarou as supostas relações criminosas entre a cúpula política do país e a empresa. Existem neste momento 800 depoimentos de 77 ex-funcionários da Odebrecht com o ministro Teori Zavascki. Pode ser o maior escândalo de corrupção no mundo, dependendo da quantidade de pessoas que envolver. É a chamada “Delação do Fim do Mundo”. Desdobramentos devem ocorrer a partir de março de 2017.
Eleição de Donald Trump
9 de novembro
Apesar de não contar com apoio da mídia, das organizações civis e da própria presidência da República e comunidade política, Donald Trump venceu Hillary Clinton, sendo eleito presidente dos EUA. Estados como Michigan, Wisconsin e Pensilvânia votaram em um republicano pela primeira vez desde os anos 1980, o que revela uma onda que não foi percebida por nenhum cientista político. Era a confirmação da onda conservadora, que começa a cobrir o Brasil e restante do mundo.
Vitória de Iris Rezende em Goiânia
30 de outubro de 2016
Contra o Governo de Goiás e vários partidos da base aliada ao governador Marconi Perillo, Iris Rezende (PMDB), sem gastar muito, venceu as eleições municipais, em Goiânia. Na campanha, escolheu como vice o deputado estadual Major Araújo, considerado um dos maiores opositores do Governo de Goiás, como resposta a uma tentativa de aproximação anunciada pelas lideranças do PSDB, que tentaram compor com o peemedebista. Iris reafirmou sua supremacia política na região metropolitana ao mostrar que nem mesmo a idade avançada o impediu de chegar à vitória.
Protestos tornam-se mais violentos
5 de setembro de 2016
Durante todo o ano ocorreram vários protestos no país. As organizações de estudantes e servidores públicos se articularam de forma inédita. Um movimento de ocupações das escolas que teve início em 2015 se repetiu em 2016, com uma uniformidade muito maior e discurso mais afinado. Os motivos de protestos são vários e os manifestantes passaram a agir de forma mais agressiva, repetindo ações ocorridas em 2013.
Governador do Rio de Janeiro é preso
17 de novembro
O ex-governador Sérgio Cabral acabou preso pela Polícia Federal na Zona Sul do Rio de Janeiro. Suspeito de receber propina para a concessão de obras públicas, ele é alvo da operação coordenada entre a Lava Jato do Rio e a do Paraná. Adriana Ancelmo, mulher do político, é também presa. Eles foram levados para os presídios como integrantes de uma quadrilha de criminosos. O recado era claro: a Justiça não perdoará corruptos. Nem seus familiares.
Eduardo Cunha é levado para presídio
19 de outubro de 2016
Por decisão de Sérgio Moro, o ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acabou preso em Brasília. A prisão preventiva ocorreu por suspeitas de que ele tenha recebido propinas de contratos de exploração de Petróleo no Benin e de usar contas na Suíça para lavar dinheiro. Não existe previsão de que seja colocado em liberdade no próximo ano. Cunha foi determinante para que a Câmara dos Deputados iniciasse o processo de impeachment.
Plano nacional
30 de junho
Há três décadas sem disputar as eleições presidenciais, dois goianos passaram a ser cogitados como potenciais candidatos. O senador Ronaldo Caiado (DEM), inclusive, apareceu pontuando nas pesquisas realizadas em 2016. Já Marconi Perillo ampliou a solidificação de sua imagem no plano nacional. Sem enfrentar as crises dos gestores dos demais estados, ele teria conseguido se antecipar diante da recessão e realizar uma reforma administrativa modelo. Diante da crises que envolvem as principais lideranças tucanas (Aécio Neves, José Serra e Geraldo Alckmin), caso não enfrente turbulências, Marconi é a partir de 2016 uma alternativa real para 2018.
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