“Saída política imediata é Assembleia Constituinte”
Diário da Manhã
Publicado em 4 de junho de 2017 às 01:18 | Atualizado há 8 anos
Nascido em Buenos Aires, o doutor em História da Universidade de São Paulo, Osvaldo Coggiola, 65 anos de idade, com dezenas de livros publicados no Brasil e no exterior, diz com exclusividade ao Diário da Manhã que a saída política para a crise no Brasil é a realização de eleições diretas já, em 2017, com a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
– É necessário eleger um novo Congresso Nacional, sem financiamento empresarial, com regras democráticas, em processo marcado pela lisura e a transparência.
Pesquisador com referências em Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Ilich Ulianov, codinome Lênin, proprietário de um indefectível cavanhaque, e do ucraniano de Yanovka, radicado na Rússia, Liev Davidovich Bronstein, ‘nom de guerre’ Leon Trotsky, ele afirma que Caetano Veloso e Milton Nascimento cantaram, no Rio de Janeiro, Cidade Maravilhosa, por Diretas Já!
– É preciso discutir também o papel do Poder Judiciário, da corte suprema do País, dos homens e mulheres nomeados pelo Poder Executivo.
Capitalismo mafioso
O capitalismo mafioso do Brasil é analisado pelo professor da USP. A JBS, empresa de Joesley Batista, teria crescido 4.000% nos últimos 10 anos no mercado, informa. Com dinheiro público, explica. Em particular, do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Após a delação premiada na PGR, com Rodrigo Janot, os seus donos já deixaram o País, critica.
100 anos depois
Osvaldo Coggiola frisa que a insurreição proletária de 25 de outubro de 1917, liderada por Lênin e Leon Trotsky, foi o evento capital do século XX. Ainda no século XXI, vivemos sob a sua marca, dispara. Mesmo que a URSS [União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, formada por 15 países sob a hegemonia da Rússia] tenha desaparecido, em 25 de dezembro de 1991, atira.
– Mesmo que tenham declarado a sua morte e o fim da História…
Não custa lembrar: após a queda do Muro de Berlim, ocorrida em 9 de novembro de 1989, e a desagregação da União Soviética, em 25 de dezembro de 1991, com o triunfo do ex-membro do PCURSS, depois convertido ao liberalismo mafioso, fanfarrão e alcóolatra Boris Yeltsin, o cientista político dos Estados Unidos Francis Fukuyama declarou o ‘Fim da História’.
– Nada mais falso!
O intelectual uspiano insiste que os conceitos de Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Ilich Ulianov – Lênin – e de Leon Trotsky continuam válidos, permanentes. O conflito das lutas de classes não teria sido superado, fuzila, enquanto, sentado na escada da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás [UFG}, fuma um cigarro para aliviar a tensão do dia.
– Cuba, China, Coreia do Norte e Vietnan nunca foram países socialistas. Não houve ocupação e exercício do poder pelo proletariado. O que houve foi a expropriação da burguesia.
China
A China caminha a passos largos, hoje, em direção ao capitalismo, registra. Com regime de partido único, monopólio do PCC [Partido Comunista Chinês], ausência de liberdades, com censura à imprensa, violação aos direitos humanos, dirigismo nas artes e cultura, mecanismos da economia de mercado. Os EUA dizem que são, sim, uma ditadura, metralha o historiador.
– O regime cubano está em transição para o capitalismo. Nasceu como um sistema burocrático, porém com uma economia que não se compara à da China.
A dinastia da Coreia do Corte, cujo poder foi repassado pelo avô para o pai e depois para o ‘filho ilustre’, já demonstra sinais de restauração à uma economia negra e informal, observa. A Coreia do Norte se instalou em 1953. Kim-Jon-um controla, hoje, o poder político com mão-de-ferro. É aliado da China. Com testes nucleares, ameaça o Ocidente, os EUA, em 2017.
– O Vietnan paga, hoje, um dos menores salários do mundo. Ele superou a China.
Com estatísticas na cabeça, Osvaldo Coggiola afirma que a China, hoje, não é mais o paraíso dos salários baixos. Greves operárias – que não foram divulgadas no Ocidente – obtiveram conquistas materiais para os trabalhadores. Apesar de possuir 1 bi e 200 milhões de habitantes, o mercado interno é fraco, já que os consumidores não têm dinheiro para gastar, pontua
– A restauração capitalista na China terá dificuldades de ordem econômica e social.
Quarta Internacional
Trotskista, Osvaldo Coggiola, cáustico, afirma que a Quarta Internacional [4ª Internacional], central mundial da revolução fundada em 3 de setembro de 1938, na França, Velho Mundo, por Leon Trotsky, não existe mais. O estudioso das revoluções do século XX garante que o que predomina, hoje, no movimento socialista trotskista mundial, é a suposta ideia de ‘seita’.
– Não existe como uma organização ligada à classe operária, aos trabalhadores.
Apenas grupelhos que defendem os seus interesses diferenciados, denuncia. Os interesses de reprodução de uma casta, ataca. Leon Trotsky foi assassinado, em agosto de 1940, no México, por um agente enviado por Josep Stálin, o espanhol Jaime Ramón Mercader Del Río, protegido em Cuba, por Fidel Castro, e que morreu em 1978. No Brasil existem, hoje, 28 grupos trotskistas.
“JBS teria crescido 4.000 % em 10 anos, com dinheiro público. Os seus donos já deixaram o Brasil”
“O Brasil exige um novo Congresso Nacional e rediscutir o papel do Poder Judiciário”
“Caetano Veloso e Milton Nascimento cantaram por eleições diretas já…”
Osvaldo Coggiola, professor da USP
Perfil
Nome: Osvaldo Coggiola
Nasceu em: Buenos Aires, Argentina
Idade: 65 anos
Cargo: Doutor do Departamento de História da Universidade de São Paulo [USP]
Linhagem: Marxista e trotskista
Datas históricas
1917 Revolução de Outubro na Rússia
1938 Leon Trotsky funda IV Internacional
1940 Ramón Mercader assassina Leon Trotsky
1949 Mao lidera a revolução na China
1959 Fidel Castro lidera Revolução Cubana
1964 Golpe de Estado no Brasil
1985 Instalação da Nova República
1988 Promulgação da Constituição
1992 Impeachment de Fernando Collor
2002 Eleição de Luiz Inácio Lula da Silva
2006 Reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva
2010 Eleição de Dilma Vana Rousseff
2014 Reeleição de Dilma Vana Rousseff
2016 Golpe contra Dilma Rousseff
2017 Crise pode derrubar Michel Temer
Fonte: Diário da Manhã
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