Tucanos sangram em praça pública
Diário da Manhã
Publicado em 26 de outubro de 2018 às 02:20 | Atualizado há 1 semanaO desabamento da base aliada do poder tem data na história de Goiás: 7 de outubro de 2018. Neste ano, o partido líder do grupo e do governo, PSDB, perdeu todo seu protagonismo político, tornando-se uma dentre tantas outras legendas que existem em Goiás.
Apesar de a história política ter uma data do acontecimento, as consequências ainda não estão bem definidas. Sabe-se que o PSDB agora começa a sofrer sua comoção intestina. Ou seja, internamente, o grupo se degladia para encontrar culpados pelo desastre das urnas.
Único deputado federal eleito pelo PSDB, Célio Silveira criticou o comando do partido e a própria definição da chapa – caso da escolha da pretendente a vice-governadora, Raquel Teixeira. Para os tucanos mais tradicionais, ela não agregou absolutamente nada. Aliás, tirou votos, já que sem atrair apoio da área acadêmica afastou votos de regiões que poderiam ter sido comtempladas com a vice – caso do Entorno do Distrito Federal e Anápolis.
Jardel Sebba, ex-prefeito de Catalão e pai do deputado estadual Gustavo Sebba, que foi reeleito, pediu a destituição do comando tucano. Não vê a hora do partido ter outra cara. A mudança é a palavra de ordem.
Outro nome de peso na legenda, pela trajetória histórica, é o vereador Anselmo Pereira. Ele também se mostra insatisfeito com o comando do partido e nos bastidores mostra receio de que não consiga sequer se reeleger dentro do grupo.
Derrotado nas urnas, o deputado federal Fábio Sousa diz que pode deixar a legenda. “Precisei levar uma cacetada para tomar a decisão de sair”, diz o parlamentar, que critica desde a cúpula nacional até a estadual.
Na verdade, Fábio nem iria disputar a reeleição pela legenda. Uma insistência o levou a seguir no grupo derrotado. O político – como os demais perdedores – está sem rumo.
Ao contrário do MDB, seu arquirival, o PSDB chega ao final de 2018 sem renovação de quadros que podem efetivamente ajudar a reconstruir a legenda. Os que existiam deixaram o partido ou ameaçam – caso de Fábio. Os que vislumbraram o barco afundando saltaram antes – caso do deputado estadual eleito, Thiago Albernaz, que migrou para o Solidariedade.
O governador José Eliton é um novato no ninho e está no epicentro das críticas do grupo insatisfeito. Não tem culpa do cenário, mas acaba por receber os respingos. Considerado um democrata, tem pouca possibilidade política de reação daqui para frente.
ASSEMBLEIA
A legenda desabou na Assembleia Legislativa de Goiás: tinha 12 deputados. A partir de 2019, o grupo terá 6 – e sem saber por quanto tempo, afinal, ser oposição não é a atividade mais cômoda para quem sempre esteve no poder.
Na Câmara federal, apenas um sobrevivente sugere que o partido terá dificuldades em 2022. Célio Silveira teve 110. 992 votos em 2014, mas neste ano sua votação caiu drasticamente para 70.663 – o que já indica que o eleito terá sérias dificuldades em tentar a reeleição na próxima disputa. As chances de reeleição dele neste grupo são remotas conforme se observa na evolução dos votos dos coeficientes eleitorais. A legenda precisará ter 200 mil votos para eleger um representante.
Na Câmara Municipal de Goiânia, a legenda tem dois vereadores que também podem não conseguir reeleição em 2020.
O tsunami que afetou o PSDB também atormentou os demais políticos que existem por dependência do grupo aliado ao ex-governador Marconi Perillo – caso do PTB, PSD e PR.
SEM VITRINE
O PSDB não terá vitrine nos próximos meses. Três dos seis deputados eleitos são do Entorno do Distrito Federal, que se elegeram com a famosa estrutura do Estado, já que todos foram governistas. Agora, na oposição, eles perdem visibilidade, principalmente por não serem parlamentares de destaque. E pior: na oposição, as obras e serviços são raras. A tendência é que tenham pouquíssima visibilidade na Capital e região metropolitana.
Os demais eleitos têm pouquíssima penetração na mídia e ações políticas da capital, já que representam suas respectivas cidades – caso de Hélio de Sousa (Goianésia) e Gustavo Sebba (Catalão). Sem esta penetração em Goiás, por meio de sua principal cidade, dificilmente este grupo conseguirá rearticular o PSDB. Todos eleitos – fora Talles Barreto, marcado muito bem de perto por fortalecido Major Araújo (PRB) – não apresentam retórica e argumentos para interpretar a oposição.
Ao contrário do MDB, seu arquirival, o PSDB chega ao final de 2018 sem renovação de quadros que podem efetivamente ajudar a reconstruir a legenda
Legenda depende de fortalecimento de Marconi
Se Marconi Perillo permanecer no PSDB o grupo pode se recuperar. Ainda que acuado pelo calvário penal imposto pela Operação Lava Jato, Perillo é o único que pode tentar sustentar o partido e animá-lo frente ao holocausto das urnas.
Ele desempenha papel semelhante ao de Lula para o PT, só que em nível regional. Com Marconi o PSDB é forte – mas também estigmatizado.
O principal inimigo de Perillo é o tempo e a reação das urnas.
O caso Demóstenes Torres (PTB) é o melhor exemplo: ainda que sem prisão, após longas explicações e quase seis anos de luta nos tribunais, ele não conseguiu votos suficientes para se eleger deputado federal.
REAÇÃO
Ainda é muito cedo para prever o que pode acontecer. Até meados de 2021, ainda que exista alguma chance remota de reação, a tendência do PSDB é se ausentar da oposição em Goiás e gastar seu tempo na busca de alguma forma para estancar a sangria. A guerra já começa na disputa pela Câmara Municipal de Goiânia e prefeituras.
A legenda sangra, mas engana-se quem acha que ela esteja morta.
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